Problemas relacionados com a coluna, pescoço, mãos, pulsos e cotovelos, mas também a nível da visão são cada vez mais comuns, muito devido à utilização excessiva das novas tecnologias. A esta lista junta-se, agora, uma nova condição que está a ser informalmente apelidada de”dedo mindinho de smartphone“.
O termo decorre da posição que muitos de nós instintivamente adotamos quando seguramos no nosso smartphone. Com os dedos indicador, médio e anelar a segurar a parte de trás do telemóvel, a base descansa no dedo mindinho, deixando o polegar livre para fazer scroll. Esta posição, mantida por vezes durante longos períodos de tempo, pode ter consequências negativas para a saúde.
O efeito mais visível é o surgimento de uma pequena mossa na lateral do dedo mindinho, e com o tempo, dores que podem alastrar-se ao longo da mão, uma vez que o dedo mindinho tem nervos que se estendem através de tendões até ao pulso. Esta posição, associada aos movimentos repetitivos dos dedos, pode criar uma tensão nos ligamentos, provocando dores e inflamação (tendinite), e possivelmente intensificar condições pré-existentes como artrite. Outros sintomas podem incluir estalidos ao mexer o dedo mindinho, dificuldade em mover os dedos ao acordar de manhã ou entorpecimento dos dedos.
Usar-se o telemóvel apenas com uma mão também pode ser negativo para a saúde, já que pode colocar demasiada pressão nos dedos mindinho e polegar e dar origem a dores. Movermos o nosso polegar para cima e para baixo repetitivamente num ecrã pode provocar tendinite e possivelmente ‘dedo de gatilho’ – nome informal para uma condição que afeta os tendões das mãos, tornando difícil ou impossível mexer os dedos, que ficam “presos” numa posição.
Apesar de a condição ainda não ter um nome oficial, nem haver estudos feitos sobre o seu impacto, os especialistas pensam que há razões suficientes para acreditar que a posição em que seguramos os nossos telemóveis pode influenciar os músculos e tendões das mãos. Esta é, aliás, uma posição pouco natural para as nossas mãos, uma vez que o dedo mindinho, apesar de ser o que tem maior mobilidade, não tem tanta força como os outros e não está preparado para segurar o peso de um smartphone por períodos prolongados.
No entanto, por muito dependentes que nos tenhamos tornado dos smartphones para trabalhar, socializar ou simplesmente relaxar, há algumas coisas que podemos fazer para reduzir o risco de lesões decorrentes da sua utilização. O jornal norte-americano The Washington Post reuniu algumas recomendações:
Fazer intervalos e mudar de posição. Uma boa ideia, para começar, é fazer um esforço para segurar o telemóvel com as duas mãos, quando for possível, especialmente se previrmos que vamos manter essa posição durante algum tempo.
“Se está a antecipar utilizar o seu telemóvel durante várias horas por dia, é melhor que não sejam contínuas”, explica Duc Nguyen, cirurgião ortopédico no Hospital Johns Hopkins, em Maryland, nos EUA. “Faça uma pausa. Estique os seus dedos. Estique o pulso”.
Neste sentido, pode ser útil monitorizar o tempo que passamos no telemóvel (praticamente todos os smartphones hoje em dia têm uma ferramenta que permite contabilizar o tempo de ecrã) e estabelecer limites.
Também pode ser útil mudar de posição. Nguyen aconselha a que se altere a posição em que seguramos o smartphone a cada 10 a 15 minutos, mas outros especialistas recomendam que se faça essa alteração a cada cinco minutos. Independentemente disso, qualquer tipo de dor ou desconforto é um sinal claro do nosso corpo a indicar que devemos alterar o posicionamento.
Priorizar o conforto e a ergonomia. Além de priorizar o uso do telemóvel com as duas mãos, quando possível, existem outras estratégias que podemos usar para maximizar o conforto e reduzir o risco de lesões.
Pode utilizar dispositivos como o PopSocket, ou outro tipo de pegas ou correntes que podem ser fixas à capa do telemóvel. O PopSocket, por exemplo, é um pequeno suporte de borracha colocado na parte de trás do smartphone que permite segurá-lo entre o dedo indicador e médio.
Os especialistas recomendam ainda ter o tamanho em conta quando se está a comprar um novo telemóvel. Um telemóvel mais pequeno e leve será mais fácil de segurar sem prejudicar os tendões, ossos e músculos das mãos.
Procurar ajuda profissional quando for necessário. A maior parte das vezes, a dor e o desconforto associados a longos períodos de tempo a usar o telemóvel desaparecem com o descanso ou alteração do posicionamento. No entanto, se sentir dor, entorpecimento ou formigueiro nos dedos e mãos de maneira persistente, pode ser útil consultar um profissional, aconselha Dominic King, ortopedista e especialista em medicina desportiva.