Quando contactámos Filipa Fernandes, 36 anos, natural de Guimarães, a ex-aluna da Escola de Engenharia da Universidade do Minho estava a sair da estamparia (já vamos perceber porquê). Há pouco mais de três anos, já a trabalhar em funcionalização de superfícies, aceitou o repto do empresário têxtil vimaranense Manuel Ribeiro que, atento às questões das funcionárias e da sua própria mãe, que tinha sintomas da menopausa, a desafiou a encontrar uma solução inovadora para atenuar os efeitos indesejados da redução dos níveis de estrogénio: afrontamentos, alterações de humor, insónias e outras queixas de mal-estar.
“A ideia era manter o corpo a uma temperatura constante (36.5º C, em média), na zona do tórax e da coluna, através de uma peça de vestuário”, explica a investigadora e engenheira. Para o efeito, concebeu a tecnologia RT (regulação da temperatura), com partículas de silicone medicinal estampadas em T-shirts. O segredo da RT está nas partículas PCM (phase change materials): “Abaixo da temperatura em que são ativadas, estão no estado sólido; face a temperaturas superiores à de ativação, o núcleo fica no estado líquido.”
Seguiu-se a avaliação em laboratório para avaliar “a capacidade de absorção térmica e a durabilidade antes e após as lavagens” e a realização de “testes dermatológicos, antifúngicos e antimicrobianos”. Para aferir os efeitos da termorregulação em contexto real, foram distribuídas mais de cinco mil T-shirts a utentes em tratamento oncológico que tiveram menopausa forçada, com o aval dos médicos que as acompanhavam.
Inovação versátil
Os resultados reportados revelaram-se promissores: “As mulheres que experimentaram as T-shirts disseram ter ficado surpreendidas por conseguirem dormir sem afrontamentos, sentirem menos irritabilidade e passarem a ter uma vida mais confortável; algumas até retomaram os passeios com os maridos, antes não tinham vontade.” Pelo meio, outra surpresa: “Houve senhoras que decidiram usar para não transpirar tanto em dias de calor, pois a peça de vestuário absorve-o.”
A tecnologia está patenteada e obteve o licenciamento do INFARMED como dispositivo médico. Desde setembro, está disponível no mercado, online e numa loja de artigos desportivos, em Guimarães, fruto da parceria com o empresário têxtil. As vendas estão a correr tão bem que até já tiveram pedidos para produzir o tamanho XS (razão pela qual Filipa estava na estamparia, a acompanhar o processo, quando a contactámos) e encomendas provenientes da Alemanha, Inglaterra, Itália, França e Espanha.
“Estou de alma cheia”, assume Filipa. “Não esperava que a reação fosse tão boa.” Refere-se ao feedback das pessoas que usam e se mostram satisfeitas: “Nunca aconselhamos as pessoas a deixar de usar a terapia hormonal de substituição (THS) pois não a substitui, mas esta tecnologia traz conforto e qualidade de vida.”
Os médicos que acompanharam o processo, “embora céticos no início”, também validaram essas melhorias. Agora, acrescenta a investigadora, o passo seguinte é testar a tecnologia RT em peças masculinas, como boxers, camisolas e meias, a pensar na sua aplicação em contexto desportivo.