Durante a pandemia, assistiu-se a uma procura desenfreada no Reino Unido por animais de companhia. Números revelados em março pela associação de produtores de comida Pet Food Manufacturers indicavam que 3,2 milhões de lares ganharam uma nova vida desde que o novo coronavírus mandou toda a gente para casa, um ano antes.
No total, a mesmo associação estima que os britânicos tenham em suas casas 12 milhões cães (e um número semelhante de gatos), mas surgem agora sinais preocupantes, com um aparente aumento significativo do número de abandonos, em circunstâncias dissimuladas. Segundo o Hope Rescue, um abrigo para animais no País de Gales, nunca, nos seus 15 anos de existência, houve tantas pessoas a entregarem ali cães como agora. Muitas não admitem que são donas do animal. Relatos de funcionários do abrigo, citados pela BBC, denunciam situações em que os donos disfarçam o seu cão, para se assemelhar a um animal errante, daqueles que vivem na rua, e contactam o abrigo para o recolher, como se o tivessem encontrado por acaso. Outros deslocam-se ao local com o mesmo tipo de argumento – que se cruzaram com o cão abandonado e foram simplesmente entregá-lo.
Um desses exemplares disfarçados de abandonados pelos donos (na foto), por exemplo, encontrava-se à venda por 500 libras (€591) num conhecido site de classificados, descobriram os tratadores do Hope Rescue. Trata-se de uma cadela com um ano de idade. “Temos de recolher os cães abandonados, e os falsos abandonados estão a passar à frente na fila dos cães realmente abandonados”, afirma Sara Rosser, responsável pelo bem-estar animal no Hope Rescue. “Definitivamente, são números sem precedentes.” Só na última semana, diz, chegaram mais cinco que ela diz ter a certeza se serem casos de falsos abandonados.
Sara também diz estar convencida de que esta triste realidade é consequência do fim do confinamento, o que leva as pessoas a terem menos tempo para dedicarem aos animais que adquiriram durante a pandemia. Segundo ela, os abrigos com os quais o Hope Rescue trabalha enfrentam igualmente “uma pressão massiva” neste momento, face ao aumento do número de cães abandonados.