Ar tímido, lábio inferior saliente e, com o passar dos anos, cada vez mais obeso. Os retratos do rei D. João VI não podiam contrastar mais com os do inimigo Napoleão, imperador dos invasores franceses. Nas pinturas a óleo que protagoniza, um elegante Bonaparte fita o espectador numa pose triunfante, disfarçando a baixa estatura. Logo no prólogo de 1821 – O Regresso do Rei. A viagem de D. João VI e a chegada da corte a Portugal (Planeta, 320 págs., €17,50), agora nas livrarias, o autor da obra, o jornalista da RTP Armando Seixas Ferreira, faz aquela comparação de atributos físicos para concluir que até isso contribuiu para “denegrir a imagem” do monarca português “ao longo dos tempos”. Ou seja, escreve, “enquanto o imperador dos franceses é visto como um conquistador, o rei de Portugal foi acusado de ter fugido para o Brasil, em vez de enfrentar os exércitos invasores”.
Ainda no prólogo, Seixas Ferreira, 48 anos, é direto quanto ao que vem. “A consulta de fontes coevas permite seguir outra abordagem e compreender a astúcia de D. João, quando teve de tomar a decisão firme e enérgica de embarcar a corte para o Rio de Janeiro”, em 1807. No início de oitocentos, o Brasil era parte de Portugal, lembra. O então regente – a morte do irmão mais velho, D. José, e a doença mental da mãe, a rainha D. Maria I, obrigaram-no a assumir as rédeas do governo com pouco mais de 20 anos –, “ao transferir a sede da monarquia para o hemisfério sul, dava uma lição de estratégia a Bonaparte”, defende.