Realizado por investigadores da Universidade de Gales do Sul, no Reino Unido, e publicado no Journal of Experimental Physiology, na última semana, o estudo, que é o primeiro a analisar como as colisões consecutivas durante treinos e jogos de rugby podem levar a uma redução do fluxo sanguíneo para o cérebro, examinou os 21 jogadores de uma equipa que competia no United Rugby Championship – uma liga profissional composta por clubes do País de Gales, Irlanda, Escócia, África do Sul e Itália – durante uma época com 31 jogos.
Damian Bailey, um dos autores do estudo, explicou, citado pela CNN Sport, que o estudo se baseou nas “colisões entre jogadores como resultado do scrummaging – método de reinício de jogada no rugby, onde os jogadores das duas equipas se juntam com a cabeça ligeiramente para baixo e se empurram com o objetivo de ganhar a posse de bola -, rucking – formado quando pelo menos um jogador de cada equipa está em contato, em pé e sobre a bola que está no solo -, mauling – quando um jogador com a bola entra em contato com um defensor, e enquanto os dois jogadores permanecem em pé, pelo menos mais um jogador da equipa atacante entra em contato – e tackling – quando um jogador tenta tirar a bola do controlo do adversário”.
Para a realização da investigação, os jogadores foram expostos a 11 mil situações de colisões com outros jogadores e, depois de analisarem a força e a aptidão cardiorrespiratória, embora não tenham verificado o estado do cérebro de cada jogador, em todos foi observado um declínio na função cognitiva ao longo do tempo, notando-se uma maior dificuldade na capacidade de raciocinar, lembrar, formular ideias e realizar tarefas mentais. “A recorrência das colisões é que leva a uma diminuição do fluxo sanguíneo, e, por conseguinte, a uma diminuição na quantidade de oxigénio e glucose no cérebro, que a longo prazo pode contribuir para uma diminuição da função cognitiva”, explicou Bailey.
“Ainda estamos no início da tentativa de compreender o que acontece ao cérebro do jogador de rugby, mas penso que há provas suficientes para que estejamos um pouco preocupados e procuremos formas de melhorar a segurança, não só dentro do jogo, mas também fora do jogo”, salientou o investigador, acrescentando que, perante estes dados, é importante compreender o que acontece ao cérebro do jogador de rugby profissional reformado “numa vida posterior”.
Anteriormente, já tinha sido documentado que as repetidas colisões no futebol americano podiam ter consequências: em 2015, num processo de ação coletiva entre a liga de futebol americano dos Estados Unidos (NFL) e mais de 5 mil ex-jogadores, foi concluído que cada jogador apresentava condições médicas graves associadas a traumatismos repetidos na cabeça, levando a que cada um recebesse 5 milhões de dólares.
No entanto, no rugby, o impacto das colisões no desporto emergiu mais recentemente. No ano passado, um grupo de ex-jogadores apresentou um processo judicial contra os órgãos dirigentes do rugby, uma vez que lhes tinham sido diagnosticadas demência precoce e provável encefalopatia crónica traumática (CTE) – uma doença cerebral progressiva e degenerativa causada por repetidos golpes na cabeça.
Na última semana, o World Rugby, órgão dirigente global da modalidade, disse que o bem-estar será sempre a “prioridade número um”, comprometendo-se a duplicar o investimento no bem-estar dos jogadores e em novas investigações para perceber as consequências das concussões cerebrais.