Esta é uma história portuguesa, com certeza. Começa até com uma cunha, daquelas que roçam a maior desfaçatez. Em 1922, alguém no Ministério da Guerra foi recuperar uma lei que ganhava pó numa gaveta há quatro anos, para dar suporte legal ao desejo do filho de uma das famílias mais ricas do País de se tornar o primeiro civil a obter o brevet de piloto em Portugal. A referida lei, aprovada pelo Ministério de Manuel de Arriaga em maio de 1915, em plena Primeira Guerra Mundial, em que Portugal estava envolvido, criava a Escola de Aeronáutica Militar e abria a porta à formação de reservistas civis – o que nunca aconteceu. Mas serviu para aquele rapaz rico, de 19 anos, ser o primeiro e único civil a ingressar no curso de pilotos da Escola de Aeronáutica Militar, em Sintra.
O episódio está contado no livro Carlos Bleck – O herói esquecido da aviação portuguesa (ed. Lua de Papel, 248 págs., €15), do comandante José Correia Guedes, e que chega às livrarias no próximo dia 14, com prefácio de Jaime Nogueira Pinto. Também autor da obra O Aviador, que vai já na 5ª edição e que reúne dezenas de histórias divertidas que 36 anos a pilotar aviões da TAP lhe renderam, José Guedes trabalhou três anos no livro sobre Carlos Bleck, conseguindo aceder a abundante documentação privada. “Ele não se limitou a ser um menino rico”, diz à VISÃO o comandante. “Quis deixar a sua marca e fê-lo, arriscando a vida, nos anos 1920 e 1930”, acrescenta.