A 19 de maio deste ano, um menino marroquino, já a entrar da adolescência, utilizou várias garrafas de plástico vazias para fazer uma espécie de boia ou de colete salva-vidas, que colocou à volta do seu corpo e assim conseguiu fazer a travessia de Marrocos para Espanha, por mar, dando à costa no areal da praia El Tarajal, em Ceuta, cidade autónoma espanhola na fronteira a norte com África. Sem família em Marrocos, o jovem chorava e dizia que não se importava de morrer a ter de voltar ao seu país. O soldado Rachid Mohamed al Messaoui que o encontrou ouviu-o dizer: “Prefiro morrer a voltar.”
Suzy Eshkuntana, palestiniana, comemorou os seis anos alguns dias depois de ter sido resgatada nos escombros da sua casa em Gaza, a 15 de maio. Depois de ter estado presa durante sete horas, desde que um ataque aéreo israelita destruiu a casa onde morava, Suzy foi levada para o hospital juntamente com o pai também encontrado vivo e ferido – a mãe e mais quatro irmãos morreram. Três semanas depois, a criança continua a pouco ou nada falar, exceto para perguntar pela mãe e os irmãos. A morar com o pai e o tio, Suzy come mal, não dorme bem, está sem vontade para brincar e grita quando alguém se aproxima dela.
Em outubro passado, o terramoto no mar Egeu, na Turquia ficará para sempre na memória de Ayla Gezgin, 3 anos. A menina esteve soterrada 91 horas nos escombros do prédio onde morava, no distrito de Bayrakli. Estava sentada na cozinha de casa quando o prédio desmoronou, tendo ficado num espaço intacto entre a bancada e a máquina de lavar. “Sou Ayla, estou bem”, disse a criança ao bombeiro que a encontrou sentada, consciente e sem ferimentos aparentes.
Também Elif Perincek, 3 anos, fará parte da história dos salvamentos do sismo de magnitude 7,0 na escala de Ritcher, que aconteceu no mar Egeu e atingiu a Turquia e a Grécia, em outubro de 2020. Passaram mais de 65 horas desde o abalo de terra e até que Elif Perincek fosse resgatada dos escombros de um prédio que colapsou em Izmir, na Turquia. A criança foi encontrada pelo bombeiro Muammer Celik, deitada de costas, entre a cama e a cómoda, sem lesões graves.
Os gritos de Mohammed Bangi, 4 anos, foram ouvidos pelas equipas de salvamento que estavam nos destroços de um prédio de cinco andares que colapsou em Mahad, uma cidade industrial a cerca de 165 km ao sul de Mumbai, na Índia. Em agosto de 2020, em plena temporada das monções, a criança ali permaneceu cerca de 20 horas após o desabamento do prédio construído sobre fundações fracas há uma década.
Foi graças aos ensinamentos aprendidos no documentário da BBC, Saving Lives at Sea (Salvando Vidas no Mar), que em agosto do ano passado, um menino de 10 anos sobreviveu sozinho no mar durante uma hora. Sessenta minutos em que tudo poderia ter falhado, depois de a criança ter entrado na água em Scarborough, na costa do Mar do Norte, no norte de Inglaterra, e de ter sido arrastada pela maré e pelo vento. A tripulação do barco salva-vidas encontrou-o a boiar de costas, com os braços e as pernas abertas, enquanto gritava por socorro. Lição aprendida.
As buscas por Naya Rivera, atriz da série Glee, tiveram início depois de o seu filho Josey Hollis Dorsey, 4 anos, em julho de 2020, ter sido encontrado sozinho e adormecido no convés de um barco de passeio no meio do lago Piru na Califórnia. A atriz de 33 anos alugou a embarcação e, segundo o testemunho da própria criança, terá ido nadar com o filho, mas nunca chegou a subir novamente para o barco.
Em Lisboa, em novembro de 2019, a resiliência da vida humana comprovou-se com o caso do recém-nascido encontrado vivo dentro de um caixote de lixo, na zona de Santa Apolónia. O bebé foi encontrado por um sem-abrigo da Avenida Infante D. Henrique, perto da estação fluvial, e ainda tinha parte do cordão umbilical. O bebé do sexo masculino, primeiro, foi para o Hospital Dona Estefânia, em Lisboa e só depois para a Maternidade Alfredo da Costa, visto não serem necessários cuidados complexos médicos e cirúrgicos. A mãe do bebé abandonado logo após o parto foi condenada a nove anos de prisão efetiva, por tentativa de homicídio qualificado e o menino irá para uma família de acolhimento temporariamente até se decidir a tutela final.
Em pleno inverno, em janeiro de 2019, com temperaturas noturnas negativas, rajadas de vento e chuvas intensas, Casey Hathaway, 3 anos, sobreviveu quase três dias ao relento e sem qualquer proteção. O caso deste menino aconteceu na floresta do Condado de Craven, na Carolina do Norte, EUA, depois de ter desaparecido quando brincava com duas crianças da sua família no quintal da bisavó. Passadas mais de 48 horas, as autoridades seguiram uma pista que os levou a um local onde conseguiram ouvir a voz da criança a chamar pela mãe.
O pai de Kenneth Howard ofereceu cinco mil dólares às autoridades por terem encontrado o filho bem e em segurança. Há dois anos, Kenneth Howard, com 22 meses, desapareceu de casa no Kentucky, EUA, e foi encontrado passados três dias junto a um penhasco de 15 metros de altura perto de uma mina, a escassos 500 metros de casa.
Insólito é o que se poderá, no mínimo, começar por dizer do caso de Xavier Cunningham. Em setembro de 2018, o menino de 10 anos do Missouri sobreviveu a uma série de acidentes: estava a brincar na casa da árvore no jardim da sua casa em Harrisonville, quando começou a ser picado por abelhas. Na tentativa de escapar às picadas, a criança fugiu e acabou por cair de cabeça em cima de um espeto de metal com 30 centímetros e ponta afiada, usado para grelhar carne. O espeto penetrou 15 centímetros na cabeça de Xavier. Apesar de no caminho para o hospital, a criança dizer à mãe: “Estou a morrer! Não consigo sentir nada!”, Xavier não foi atingido nos olhos, cérebro, medula ou vasos sanguíneos. Um verdadeiro milagre.
A família australiana estava acampada junto ao lago Eildon, no Parque Nacional de Fraser, quando Luke Shambrook, 11 anos, desapareceu, há seis anos. Luke esteve perdido no parque durante cinco dias e foi encontrado pela polícia a três quilómetros do local onde a família estava acampada. Apesar de Luke ter 11 anos, a grande preocupação dos pais e vizinhos campistas que participaram também nas buscas, era o facto de Luke sofrer de autismo. Gostava de se esconder em espaços apertados e tinha um certo fascínio por água, mas foi encontrado sentado no chão e com hipotermia.