No dia 7 de dezembro de 2009, o cadáver de uma cidadã portuguesa, posteriormente identificada como Rosalina Ribeiro (ex-secretária e companheira do industrial português anteriormente falecido Lúcio Tomé Feteira), foi encontrado na berma de uma estrada, a cerca de 100 quilómetros do Rio de Janeiro, no Brasil. Pouco tempo antes, para escapar às disputas entre os herdeiros de Feteira, a ex-amante do empresário de Leiria colocara, nas contas do advogado português Domingos Duarte Lima, a módica quantia de 5,2 milhões de euros, que, supostamente, haviam pertencido a Tomé Feteira. O antigo patrão, um homem alto e magro, quase esquálido, com um semblante duro e um porte nobre, embora traído por uma voz de cana rachada de timbre metálico, fora um opositor ao salazarismo, mas virara, ele próprio, salazarista, já depois do 25 de Abril, por ter sido atacado pelo novo poder revolucionário do PREC, que lhe nacionalizara as empresas e o pusera na rua. Tomé Feiteira era, sob o seu característico chapéu de aba larga, uma personagem. E a sua secretária e amante, com o seu ar de dona de casa dos anos 60, revelar-se-ia versada no jogo do gato e do rato dos caçadores de fortunas.
Duarte Lima, outro cromo difícil, mas este no tabuleiro da política portuguesa – e das portas giratórias entre a advocacia de negócios e os cargos públicos – fora um dos obreiros mais conhecidos do cavaquismo. “Descoberto” por Ângelo Correia, foi deputado por Bragança, presidente do grupo parlamentar do PSD e chegou a ganhar eleições para estruturas internas a Pacheco Pereira e a… Pedro Passos Coelho. O obscuro advogado, vindo da terra quente transmontana, desaguara em Lisboa como um Calisto Elói camiliano, em busca de fama e de fortuna. Numa célebre capa de dezembro de 1994, a VISÃO titulava, entre aspas, por cima de uma foto da antiga estrela em ascensão – e já anjo caído, devido a um negócio imobiliário de contornos suspeitos: “Como eu enriqueci.”