“Provavelmente, várias pessoas vão morrer. É desconfortável. É uma longa viagem, podem não voltar vivas”, admitiu esta semana Elon Musk, referindo-se às primeiras missões humanas a Marte, durante uma entrevista com Peter Diamandis, fundador da XPrize, uma organização sem fins lucrativos que organiza competições ligadas à tecnologia. Contudo, afirmou o empresário, ninguém é obrigado a ir: “Nós não fazemos ninguém ir. É em sistema de voluntariado”.
O fundador e CEO da SpaceX já fala desta ambição há duas décadas. A empresa foi, aliás, fundada com esse mesmo objetivo: enviar e trazer humanos de Marte. Neste momento, está a ser testado o foguetão Starship, tendo sido este mesmo veículo, na última semana, o vencedor escolhido pela NASA do concurso para se tornar o próximo a realizar uma missão lunar humana, a cargo da agência espacial norte-americana.
O Starship está a ser testado no Texas, sem tripulação, já que não tem estado a ter bons resultados (até agora, houve quatro tentativas de voo e todas resultaram na explosão do foguetão). Musk espera, contudo, que a viagem consiga ser realizada em breve.
Esta não foi a primeira vez que o magnata da tecnologia falou acerca dos riscos associados à viagem a Marte. Em agosto do ano passado, numa conferência virtual, o empresário referiu que “há uma boa probabilidade” de pessoas morrerem nas primeiras missões ao planeta. O mesmo aconteceu, como se sabe, nos testes iniciais da missão Apollo da NASA, que levou o Homem à Lua, e nos acidentes com o vaivém espacial Challenger (em 1986), e Columbia (em 2003), ambos da NASA, que provocaram a morte a 14 astronautas.
Apesar de Musk já ter referido várias vezes o seu desejo de um dia poder viver em Marte, nunca confirmou que iria fazer parte de uma das missões iniciais ao planeta. Pelo contrário, o CEO compara aquilo que espera ser o recrutamento para a primeira viagem ao planeta com o que foi usado por Ernest Shackleton para a primeira excursão à Antártida. O explorador polar, que liderou três expedições britânicas ao continente gelado, recorreu a um anúncio de jornal para criar a sua equipa. “Procuram-se homens para uma jornada perigosa, salários pequenos, frio intenso, longos meses de escuridão total, perigo contante, um retorno seguro não garantido, honra e reconhecimento em caso de sucesso”, podia ler-se no anúncio. Por menos apelativo que pudesse ter parecido, o explorador recebeu, alegadamente, mais de cinco mil respostas ao anúncio, de acordo com o próprio Shackleton.
Os planos da SpaceX para Marte levantam ainda inúmeras questões tecnológicas, políticas e éticas. Também o financiamento do próprio projeto é uma das grandes dificuldades que existem neste momento, uma vez que a SpaceX ainda precisará de vários anos para conseguir desenvolver a tecnologia que necessita. Além disso, existe toda uma panóplia de condições desfavoráveis aos humanos nesse planeta e que constituem, ainda, um perigo para eles, desde a exposição a uma grande quantidade de radiação até à baixa-pressão atmosférica. O que significa que, para lá viver, seria necessário construir habitats herméticos (completamente fechados de modo a que o ar não pudesse entrar ou sair) ou fatos espaciais para o mesmo efeito. A NASA é uma das agências que tem vindo, há décadas, a investigar a possibilidade de construir estes habitats e outras formas de sobreviver neste meio.
Musk acredita que estabelecer pessoas em Marte será essencial para a sobrevivência da nossa espécie no futuro. No ano passado, apresentou uma timeline para levar a primeira tripulação humana à superfície do Planeta Vermelho já em 2026.