Nas últimas duas semanas, observou-se uma tendência de estabilização da incidência da Covid-19, revelou Baltazar Nunes, investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), que fez o ponto de situação da incidência e transmissibilidade do SARS-CoV-2 em território nacional na reunião que junta especialistas e políticos no Infarmed.
“Para os últimos cinco dias, estimámos um R de 0,99, quando era de 1,05 na última reunião, há 15 dias”, revelou o epidemiologista. Assim, observou-se um decréscimo da transmissibilidade, com o R a manter-se abaixo de 1. Já a incidência de casos por cada 100 mil habitantes a 14 dias é de 67,3 no Continente.
O número de novos casos diários também decresceu, sinónimo de que a tendência da incidência é estável ou ligeiramente decrescente.
Neste momento, a região Norte é a única do País com um R acima de 1, mas a taxa de incidência mantém-se abaixo dos 120 casos por 100 mil habitantes, tal como em todo o restante território nacional.
Se o Norte mantiver o R de 1,05 que regista atualmente, poderá atingir os 120 casos por 100 mil habitantes dentro de duas semanas a um mês. No entanto, Baltazar Nunes considera haver “espaço para medidas de contenção” que invertam a transmissibilidade.
A nível etário, o aumento da incidência está concentrado entre os 10 e os 20 anos. Já acima dos 80 anos mantém-se a redução da taxa de incidência, reflexo da vacinação.
“Todos os grupos etários estão abaixo da incidência” do início do desconfinamento, à exceção do grupo dos 10 aos 20 anos, que se situa “ligeiramente acima”, o que não é muito preocupante porque a doença costuma ter uma evolução benigna nos mais jovens.
A incidência nas crianças e jovens em idade escolar, em março e abril, é bastante mais baixa do que no início do ano escolar, em setembro e outubro. De acordo com o investigador do INSA, este é um reflexo do resultado positivo da abertura faseada das escolas.
Os internamentos, seja em enfermaria ou em unidades de cuidados intensivos (UCI), têm uma tendência “ligeiramente decrescente”. Atualmente, a ocupação das UCI por parte dos doentes com Covid-19 está abaixo das cem camas. Os idosos acima dos 80 deixaram de ser os principais hospitalizados, sendo agora a faixa etária dos 50 aos 79 anos a mais preocupante.
No que diz respeito à posição de Portugal na Europa, ao contrário das projeções anteriores, o País “não manteve o padrão de aumento da incidência e estabilizou”, ou seja, o R está abaixo de 1 e a incidência situa-se entre os 60 e os 120 casos por 100 mil habitantes, semelhante à registada na Finlândia e perto do cenário no Reino Unido.
Portugal está no grupo dos países europeus com maior mobilidade, o que acompanha o levantamento das medidas de contenção.
Quanto à vacinação, já é possível assinalar “o benefício de atingir níveis de cobertura vacinal elevados para reduzir a incidência” da doença. “A partir do momento que se atingiu 60% da população com mais de 80 anos com a primeira dose [da vacina] houve uma inversão” do contágio.
“Há um benefício claro em atingir níveis de cobertura vacinal elevados em determinados grupos etários”, afirmou o especialista.
As previsões do INSA indicam que 80% da população acima dos 70 anos poderá estar vacinada no final do maio e, em julho, será a vez do grupo etário acima dos 60. A vacina tem mostrado uma efetividade de 90%.
O epidemiologista sublinhou o esforço de testagem, sobretudo nos concelhos com maior incidência. E considerou “muito positivo” a taxa de positividade estar abaixo do valor de referência de 4%.
Perante os vários cenários de aumento ou contenção da transmissibilidade, o investigador sublinha que, com um R de 1,10 e uma cobertura elevada de vacinação, a redução concentra-se acima dos 60 anos, mas, se mantivermos a medidas de contenção, o benefício será transversal a todos os grupos etários.
Em síntese, a incidência a 14 dias apresenta-se em níveis moderados e com uma tendência estável, “o que é bom sinal”. Há aumento da incidência dos 10 aos 20 anos, mas que se deve ao esforço de testagem neste grupo etário, mas também à reabertura das escolas. Pelo contrário, verifica-se uma redução acentuada da incidência acima dos 65 anos. E observa-se um impacto significativo da vacinação nas pessoas com mais de 80.
O valor do R está muito próximo de 1, apenas acima no Norte (com 1,05). O horizonte para atingir os 120 casos por 100 mil a nível nacional, mantendo o R atual, não está no horizonte – “demoraremos muito tempo, se alguma vez chegarmos lá”.
Se atingirmos uma cobertura da vacinação de cerca de 80% na população com 60 e mais anos, até ao final de julho, seja num cenário de incidência crescente ou controlada, o peso da infeção a nível dos internamentos será “bastante menor do que se deixarmos a incidência aumentar”.
Baltazar Nunes destacou que os resultados apresentados sugerem “uma situação epidemiológica controlada com claros sinais do impacto do plano de vacinação, sobretudo acima dos 80”. Não obstante, até aumentar a cobertura de vacinação, é fundamental controlar a epidemia através do aumento da testagem, dos rastreio dos contactos dos casos positivos, da redução da convivência foram das bolhas familiares e da manutenção das medidas de prevenção individuais e também coletivas, por exemplo, nas escolas e locais de trabalho.