“Se algum dia eu me cansava assim!”, lamenta-se Paulo Neno, 58 anos. À medida que avança no corredor do serviço de Medicina Física e de Reabilitação do Hospital Garcia de Orta, em Almada, os seus olhos procuram avidamente um ponto de apoio. Na falta de melhor, a parede serve de encosto para recuperar o fôlego. Esta aflição desconcerta quem assiste ao seu tormento. O encarregado de construção civil testou positivo em outubro e tinha esperança de regressar ao trabalho no final de fevereiro. “Em 40 anos de descontos, nunca tinha estado de baixa”, faz questão de sublinhar. Contudo, foi atraiçoado pelos sintomas da doença, que não lhe têm dado tréguas. “Vivo num primeiro andar, são 14 degraus, mas parece que estou a subir o Cristo Rei”, metaforiza.

DATA DA INFEÇÃO -15 OUTUBRO 2020
O maior desejo do encarregado de construção civil é regressar ao trabalho, mas a persistência dos sintomas da Covid-19 não lhe permite. Depois de registar melhorias ao longo de quatro meses, sem nunca recuperar totalmente, sentiu um revés a meio de fevereiro. Já conseguia fazer caminhadas de dez quilómetros mas, agora, até um corredor o assusta. Iniciou um programa de fisioterapia na esperança de se ver finalmente livre da doença.
Paulo Neno não é caso único. Médicos e cientistas estão a constatar que, muitas vezes, a Covid-19 não termina com o fim da infeção por SARS-CoV-2. Alguns doentes continuam a lidar com sintomas semanas, ou mesmo meses, depois de já não estarem infeciosos. Calcula-se que 10% das pessoas contagiadas com o mais recente coronavírus possam desenvolver queixas a longo prazo, ou seja, sofrer da chamada long Covid ou Covid prolongada. A comunidade médica tem procurado uma terminologia científica para esta condição.