Se olhar para o céu ao anoitecer ou amanhecer, é possível que veja uma coluna de luz ténue a começar no horizonte. A luz zodiacal resulta do reflexo da luz do Sol numa nuvem de minúsculas partículas de poeira que orbitam a nossa estrela. Até agora, os astrónomos pensavam que essa poeira chegava ao centro do sistema solar trazida por asteroides e cometas.
A “falsa aurora” chamou a atenção do astrónomo Giovanni Cassini, em 1683, e do profeta Maomé
Agora, uma equipa de cientistas acredita ter chegado à sua verdadeira origem, que anunciaram esta semana numa publicação no Journal of Geophysical Research: Planets: uma das câmaras a bordo da Juno, que está a caminho de Júpiter, detetou, num feliz acaso, partículas de poeira que atingiam a nave, permitindo perceber que a sua origem é Marte.
“Nunca pensei que estaríamos à procura de poeira interplanetária”, comenta John Leif Jørgensen, professor da Universidade Técnica da Dinamarca.
O investigador concebeu as quatro câmaras a bordo da Juno que tiram fotos do céu a cada quarto de segundo para determinar a posição exata da nave no espaço, o que é possível graças ao reconhecimento dos padrões das estrelas. Jørgensen confessa, segundo a NASA, que tinha esperança que as suas câmaras também apanhassem algum asteroide até aqui desconhecido e, por isso, programou uma delas para “avisar” quando detetasse, em várias imagens consecutivas, alguma coisa que não constasse do catálogo de objetos celestes conhecidos.
Quando a câmara começou a mostrar milhares de objetos não intentificáveis – “riscos” a aparecer e desaparecer misteriosamente – Jørgensen e a sua equipa ficaram boquiabertos: “O que poderá isto ser?”
Ao espanto juntou-se alguma preocupação. “Pensámos: alguma coisa está mal”, recorda. É que o que as imagens mostravam parecia o efeito de alguém a abanar um pano cheio de pó à janela. Só quando conseguiram calcular o tamanho e velocidade aparentes do que aparecia nas imagens perceberam o que tinham à frente – minúsculas partículas de poeira a embaterem na Juno a 16 mil quilómetros por hora, arrancando pequenos (muito pequenos mesmo, submilimétricos) pedacinhos da nave.
O “spray” de partículas, tornou-se depois claro, vinha dos painéis solares expansíveis da Juno, que acabaram por funcionar como o maior detetor de poeiras alguma vez criado.
Apesar de haver, agora, provas significativas de que Marte, o planeta mais empoeirado, é a fonte da luz zodiacal, Jørgensen e a sua equipa ainda não estão em condições de explicar como é que aquela poeira toda consegue escapar à gravidade do planeta vermelho.