Até ao final de fevereiro, foram vacinadas mais de 600 mil pessoas, em Portugal, contra a infeção provocada pelo vírus SARS-CoV-2. Contudo, menos de metade (265 mil) tomou as duas doses da vacina.
Mas será que quem já foi imunizado pode aliviar medidas de proteção, como o uso de máscara, o distanciamento físico ou a lavagem frequente das mãos?
“A vacina não isenta ninguém de tomar precauções”, começa por dizer o especialista em Saúde Pública Bernardo Gomes.
Com cerca de 6% da população vacinada (apenas 3% com as duas doses) – ainda muito longe da eventual imunidade de grupo – é cedo para aliviar cuidados porque existe o risco de alguém já inoculado transmitir o vírus.
Há uma diminuição da infecciosidade depois da administração da vacina, mas isso não significa que a pessoa não possa ser infetada e infetar os outros
bernardo gomes, médico de saúde pública
“Há uma diminuição da infecciosidade depois da administração da vacina, mas isso não significa que a pessoa não possa ser infetada e infetar os outros”, esclarece Bernardo Gomes.
A maior parte das vacinas treina o sistema imunitário para impedir que um vírus se replique ao ponto de causar doença, mas não evita totalmente a infeção, apesar de a tornar inconsequente.
Por isso, é seguro assumir que as vacinas contra o SARS-CoV-2 não irão diminuir a infeção em 100%. Por outro lado, é evidente que a contagiosidade das pessoas imunizadas será reduzida, o que falta descobrir é em que medida.
As novas variantes do SARS-CoV-2, por exemplo, podem diminuir a eficácia de algumas vacinas e contribuir para uma maior infecciosidade das pessoas inoculadas.
Os ensaios clínicos das vacinas focaram-se na prevenção de doença grave e, claro, da morte, o que está muito associado ao seu impacto nos pulmões. Já no que diz respeito à transmissão, ela está ligada à presença do vírus no nariz e na garganta do infetado.
Com a ajuda da vacina, o sistema imunitário deverá ser capaz de debelar o vírus pouco tempo depois da sua entrada no organismo, diminuindo a sua presença no nariz e na garganta, o que reduzirá significativamente a possibilidade de o vacinado infetar alguém.
As novas variantes do SARS-CoV-2, por exemplo, podem diminuir a eficácia de algumas vacinas e contribuir para uma maior contagiosidade das pessoas inoculadas
Israel, que já deu a primeira dose da vacina a metade da população, monitorizou os contactos de 600 mil pessoas imunizadas e registou uma queda de 46% nas infeções após a primeira toma e de 92% após a segunda.
O próximo passo na investigação será acompanhar as pessoas imunizadas que foram infetadas e monitorizar os seus contactos para compreender a disseminação do vírus nestas circunstâncias.
De acordo com o The New York Times, o Centro de Prevenção e Controlo de Doenças (CDC) dos Estados Unidos prepara-se para divulgar recomendações sobre “pequenos encontros entre pessoas vacinadas”, nos quais deverá ser permitido o alívio das restrições, mas apenas nos casos em que todas os presentes já tenham sido inoculados.
No entanto, perante tanta incerteza, enquanto o vírus estiver a circular na comunidade e houver uma percentagem tão baixa da população imunizada, é essencial que as pessoas vacinadas continuem a manter todos os cuidados. Por elas e pelos outros.