Um novo estudo realizado pela Universidade de Cambridge, Inglaterra, concluiu que pessoas com ideias e comportamentos mais extremistas e dogmáticos não são tão capazes de desenvolver tarefas mais complexas a nível mental.
O objetivo da investigação, publicada na revista Philosophical Transactions of the Royal Society B e que se baseou em pesquisas anteriores, era perceber se a forma como se apreende e processa a informação no cérebro pode influenciar as ideologias de cada um, tanto políticas como religiosas, além de fatores já conhecidos, como a raça, o género e a idade.
Durante duas semanas, mais de 300 norte-americanos, entre os 22 e os 63 anos, realizaram mais de 30 testes neuropsicológicos – memorizar formas, por exemplo – e mais de 22 inquéritos de personalidade. Nenhum dos testes abordou qualquer questão política ou até pessoal. Depois, foi utilizada modelagem computacional, que aplica modelos matemáticos e técnicas da computação à análise e compreensão de problemas, para extrair, a partir das informações obtidas, dados sobre a perceção e aprendizagem de cada participante, assim como a sua capacidade de desenvolver tarefas mais complexas a nível mental.
Os investigadores perceberam, então, que os participantes com ideologias e comportamentos mais extremistas – foram analisadas 16 orientações ideológicas diferentes – tendem a ver o mundo de forma mais fechada e, relativamente a tarefas mentais mais intrincadas, esses participantes tinham mais dificuldade em resolvê-las. Ao The Guardian, Leor Zmigrod, autora principal do estudo, explicou que este estudo veio mostrar que “indivíduos ou cérebros que têm mais dificuldade em processar e planear sequências de ação complexas tendem a ser mais atraídos por ideologias extremistas ou autoritárias”.
Além disso, deram conta de que os participantes mais dogmáticos tinham mais dificuldades no que diz respeito ao processamento de evidências. Por exemplo, numa das tarefas, quando lhes foi pedido que indicassem se determinados pontos se moviam para a esquerda ou para a direita, este tipo de participantes demorou, de forma geral, mais tempo a processar essa informação e a responder.
Os pesquisadores perceberam ainda que os participantes com ideais extremistas não controlavam tão bem as emoções e eram mais impulsivos, relativamente aos outros participantes.
Em determinadas tarefas, em que os participantes deviam responder o mais rapidamente possível, verificou-se, de acordo com os investigadores, que aqueles que eram mais conservadores a nível político davam respostas mais lentas e constantes; já os participantes que se mostravam mais liberais politicamente respondiam de forma mais rápida, mas menos precisa. “Conservadorismo é quase sinónimo de cautela”, afirma Zmigrod. “Percebemos que, a um nível neuropsicológico muito básico, indivíduos que são politicamente conservadores tratam todos os estímulos que encontram com cautela”, explicou.
A equipa acredita que estes estudo pode vir a ser utilizado para identificar pessoas mais vulneráveis à radicalização, tanto a nível político como religioso, referindo que os dados demográficos tradicionais (idade, género e raça, por exemplo) explicam apenas 8% da variação das diferentes ideologias. “Quando incorporamos as avaliações cognitivas e de personalidade, de repente, a nossa capacidade de explicar a variação das diferentes visões ideológicas do mundo salta para 30% ou 40%”, garante a investigadora.