O processo pode ter uma ou outra variante, mas em regra é sempre o mesmo: mensagens escritas com o nome da pessoa que as recebe, a avisar que querem entregar uma encomenda, acompanhadas de links para páginas com o logótipo dos CTT ou de empresas de entrega. Para alegadamente acelerar o procedimento, pedem que destinatário introduza os dados do cartão de crédito, ora argumentando que é preciso tratar de taxas alfandegárias ora sugerindo que fica habilitado a um sorteio de um iPhone 11 – no caso, acompanhado de um texto daquelas letras muito pequeninas que mal se conseguem ler.
“Foi aí que desconfiei”, conta Ricardo F., que, depois de ter recebido várias mensagens do género, denunciou o facto aos CTT, através do formulário de contacto que a empresa disponibiliza no seu site. A confirmação de que era uma burla não demorou – e isto tanto para mensagens escritas (SMS) como para emails, que também têm circulado em nome dos CTT, tudo “num português pouco correto e com erros ortográficos”.
Os CTT informam ainda, lê-se na resposta enviada esta terça-feira, 23, que “estes emails/SMS são fraudulentos e que já foram efetuadas as diligências junto das entidades competentes”. E aconselham quem receba estas mensagens, “que representam um esquema de phishing através do qual uma entidade desconhecida pretende obter dados privados”, a não descarregar quais anexos nem aceder a links” e a apagar a mensagem de imediato.
“Não Sejas Pato!”
Não é também, diga-se já, a primeira vez que um caso destes é denunciado. Segundo confirmam também os no seu site, os alertas a denunciar burlas em nome da empresa têm-se sucedido regularmente, desde maio de 2019.
Há um ano, circulavam vários outros esquemas semelhantes em nome de diversos outros serviços, alegando que havia uma dívida por saldar, acompanhado por uma referência multibanco e o montante a pagar. Em comunicado enviado às redações na altura, a euPago, empresa portuguesa especializada no apoio a pagamentos feios pela internet, confirmava que “o esquema fraudulento proliferara nas primeiras semanas de 2020”, adiantando que em poucos meses recebera 77 queixas de burlas deste tipo – cerca de duas por dia – ou aquilo a que chamou “uma pandemia de SMS fraudulentos”.
Os casos acumulados ao longo do ano ganharam, aliás, tal dimensão que, nas vésperas da Black Friday, no início de novembro, o Portal da Queixa avançou com a iniciativa Não Sejas Pato!, com o objetivo “aumentar a literacia digital dos consumidores, alertando para os perigos da internet.”
Trata-se, basicamente, de uma plataforma lúdica para testar os conhecimentos do utilizador sobre as formas de efetuar compras em maior segurança e de evitar burlas e esquemas enganosos. E que também convidava à denúncia deste tipo de fraude “todos os que não ficam indiferentes a estes fenómenos e aos consequentes perigos diários que representam para milhões de consumidores”, como rematava Pedro Lourenço, diretor e fundador daquele Portal –lamentando ainda que se assista “à total inércia por parte dos organismos do estado, a quem foram atribuídas as funções de promover a política de salvaguarda de direitos dos consumidores”.