O luso-senegalês Mamadou Ba, dirigente da associação SOS Racismo e antigo assessor parlamentar do Bloco de Esquerda, saltou para a ribalta em janeiro de 2019, ao qualificar de “bosta” uma intervenção policial no bairro da Jamaica, no Seixal, numa declaração que dava azo a dupla interpretação. A outra leitura, mais polémica, apontava para que considerasse a polícia, no seu todo, uma “bosta”. Na sua página de Facebook, Mamadou Ba escreveu o seguinte: “Sobre a violência policial, que um gajo tenha de aguentar a bosta da bófia e da facho esfera é uma coisa natural, agora levar com sermões idiotas de pseudo radicais iluminados é já um tanto cansativo, carago!”
É óbvio que a segunda interpretação é legítima, mas as explicações posteriores do ativista antiracismo permitiram esclarecer que a expressão se referia à atuação policial naquele contexto específico e não a uma qualificação da PSP enquanto força de segurança. “Sim, bater em alguém porque é negro ou cigano é uma bosta”, escreveria, mais tarde, depois de ter começado a receber “vários tipos de insultos e ameaças”, na sequência da publicação inicial.
Da intervenção no bairro social da margem sul resultariam cinco arguidos, quatro moradores e um agente da polícia, além de uma chuva de críticas a Mamadou Ba. O próprio Bloco de Esquerda se demarcou das palavras do então seu assessor parlamentar, que meses mais tarde haveria de desfiliar-se do partido.
Não era a primeira nem seria a última vez que os comentários deste homem nascido no Senegal há 47 anos, e a viver em Portugal há mais de duas décadas (já com nacionalidade portuguesa adquirida), geravam controvérsia no espaço público. Mas o que estava para trás eram, sobretudo, denúncias enquadradas por uma linguagem mais compatível com as suas funções na SOS Racismo, como a das agressões a seis residentes no bairro da Cova da Moura, na Amadora, em 2015, na esquadra de Alfragide – oito agentes acabariam condenados em tribunal.
Daí em diante, Mamadou Ba tem sido mais incisivo nas suas intervenções públicas, sendo muitas vezes acusado de incitar ao ódio e até de racista. Os insultos a André Ventura, líder do Chega, são uma constante na sua página de Twitter.
Em novembro do ano passado, um jogo de palavras deixou-o outra vez no centro das críticas, quando falou na necessidade de “matar o homem branco”, durante a conferência online “Racismo e avanço do discurso de ódio no mundo”. O luso-senegalês referia-se, no entanto, a um homem branco específico, “assassino, colonial e racista”, no contexto de uma reflexão sobre o racismo no mundo, como se pode ver no vídeo original (clicar no link e ver a partir da 1h19m).
Uns dias depois, foi Jorge Jesus quem o indignou, ao desvalorizar o comportamento do quarto árbitro no jogo da Liga dos Campeões entre o Paris Saint-Germain e o Basaksehir Istambul. Embora desconhecendo os pormenores do caso – o romeno Sebastian Coltescu identificou o treinador adjunto da equipa turca, Pierre Webó, como “aquele negro ali” -, o técnico do Benfica afirmou que, “hoje, qualquer coisa que se possa dizer contra um negro é sempre sinal de racismo e a mesma coisa dita contra um branco já não é”. Benfiquista assumido, Mamadou Ba ironizou no Twitter:
O ativista antiracismo também não tinha ficado indiferente à polémica da ausência de vozes de atores negros na versão portuguesa do filme de animação “Soul”, cujo protagonista ambiciona tocar numa banda de jazz. Jorge Mourato foi o escolhido para lhe dar voz.
Nas últimas semanas, Mamadou Ba tem disparado em várias frentes e voltou a ter os holofotes apontados na sequência dos comentários contundentes que fez sobre Marcelino da Mata. Mas, além de André Ventura, nenhum outro alvo tem merecido mais a sua atenção do que Nuno Melo. Nesta quarta-feira, após um debate na TVI no qual também participou Joana Cabral, dirigente da SOS Racismo, o luso-senegalês utilizou o Facebook para comentar o desempenho do eurodeputado do CDS. Nestes termos: “Foi igual a si próprio, ou seja, um marialva trafulha que mente com todos os dentes. Ainda assim, mostrou-se um cobardola que, ao mesmo tempo que exaltava a coragem do criminoso de guerra, não teve a coragem de assumir a sua concordância com a minha deportação proposta por uma petição, patrocinada pelo seu partido, entre outros. E, a dada altura, revelou o verdadeiro fascistoide que é, quando falou nas “pessoas de bem”, copiando o Ventura.”