As contratualizações entre setor público e privado já tiveram início e o objetivo é aquele de diminuir as longas listas de espera para cirurgias programadas não urgentes, situação agrava pela suspensão das mesmas durante a pandemia. As administrações dos cinco hospitais são unânimes ao afirmar que a necessidade de mobilizar profissionais de saúde para tratar doentes Covid, bem como o aumento de internamentos nas enfermarias e Unidades de Cuidados Intensivos, que a pandemia provocou, suscitaram a procura desta solução, que pressupõe o encaminhamento dos doentes a aguardar cirurgias programadas não urgentes para Unidades de Saúde privadas.
“Estávamos a somar meses ao tempo de espera em lista”, afirma Artur Vaz. O Administrador Executivo do Hospital Beatriz Ângelo não tem dúvidas que “cada mês que corre com atividade parcialmente suspensa corresponde a mais umas centenas de pessoas a ficar à espera”. Daniel Ferro, presidente da administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte, avança ainda que, se esta solução não tivesse sido adotada, “a maioria das pessoas poderia ter de esperar, na melhor das hipóteses, até abril maio ou junho, não menos do que isso”.
Além de reduzirem as listas de espera, os hospitais públicos conseguem assim dar também uma melhor resposta aos doentes Covid-19, como sublinha Luis Drummond Borges Administrador Executivo do Grupo Lusíadas Saúde, que gere Hospital de Cascais, ao abrigo das parceiras público-privadas (PPP), o Hospital de Cascais.
Este investimento na saúde, esforço redobrado no final de um ano desafiante, começa já a apresentar resultados com o Amadora Sintra a anunciar que, das 625 cirurgias contratadas, 400 já foram realizadas, o Centro Hospitalar Lisboa Norte a estimar que, das 500 cirurgias previstas, 40 já também já foram realizadas e o Hospital Beatriz Ângelo a afirmar que, em média, estão já a ser feitas 40 cirurgias por semana, das que estavam em atraso.
Que médicos realizarão as cirurgias?
“Quem realizará as cirurgias e seguirá o doente serão os nossos cirurgiões, até porque é mais fácil manter a fidelidade dos doentes se a intervenção for assegurada pelo seu médico”, explica Daniel Ferro. O presidente da administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte, que estabeleceu protocolos com quatro Unidades de Saúde privadas, duas delas o Hospital Lusíadas Lisboa e o Hospital da Luz Lisboa, refere que “tudo o resto será da responsabilidade da equipa dos hospitais onde o doente será operado”.
Também nos hospitais Beatriz Ângelo, Amadora Sintra e Cascais o procedimento será este. Só o Hospital Garcia da Orta, numa das unidades de saúde privada com as quais contratualizou (Cruz Vermelha), terá cirurgiões dessa mesma unidade a realizar as cirurgias.
Para que unidade de saúde privada serão os doentes encaminhados?
Uma vez que dois dos hospitais em questão são geridos por grupos de saúde privados, ao abrigo das PPP, no caso do Hospital de Cascais e do Hospital Beatriz Ângelo, os protocolos foram realizados respetivamente com o Grupo Lusíadas Saúde e o Grupo Luz Saúde.
“Os doentes do Hospital de Cascais podem ser encaminhados para o Hospital Lusíadas Lisboa ou para a Clínica de Santo António. Em Lisboa, temos uma capacidade instalada de 48 camas cirúrgicas e oito camas para doentes médicos que, de forma coordenada, serão usadas tanto pelo Hospital de Cascais como pelo Centro Hospitalar Lisboa Norte”, revela Luís Drummond Borges. Quanto ao Beatriz Ângelo, usará o Hospital da Luz Clínica de Odivelas e o Hospital da Luz de Oeiras.
Já o Amadora Sintra, após consultar três entidades privadas, acabou por contratualizar com o Grupo Trofa Saúde, através do Hospital Trofa Saúde Amadora, num investimento equivalente a cerca de 500 mil euros. Quanto aos hospitais de Santa Maria e Pulido Valente não adiantaram pormenores relativamente às quatro parcerias contratualizadas, mas a VISÃO apurou que duas delas são com os grupos Lusíadas e Luz, através dos hospitais Lusíadas Lisboa e Luz Lisboa. Quanto ao Hospital Garcia da Orta, os doentes poderão ser encaminhados para o Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, para o Hospital do SAMS ou para a Clínica São João de Deus .
Que especialidades estão contempladas?
As especialidades eleitas por cada hospital foram aquelas que apresentavam listas de espera maiores e atrasos mais evidentes. No Hospital Amadora Sintra os esforços foram concentrados na Cirurgia Geral e Otorrinolaringologia, no Centro Hospitalar Lisboa Norte foram destacadas 12 equipas de Cirurgia cardíaca, Neurocirurgia, Urologia, Cirurgia Plástica, Cirurgia Vascular, Otorrino e Ortopedia.
O Hospital de Cascais decidiu-se pela Ginecologia, Oftalmologia, Ortopedia, e Otorrinolaringologia, no Hospital Beatriz Ângelo, Oftalmologia e Ortopediae, por fim, no Hospital Garcia da Orta, Cirurgia Geral, Senologia, Ortopedia, Otorrinolaringologia e Cirurgia Maxilofacial.
Quanto ao tipo de cirurgia, quase todos os hospitais contratualizaram cirurgias com internamento, à exceção dos hospitais Amadora Sintra e Garcia da Orta que contemplam apenas cirurgias em ambulatório, ainda que o conselho de administração do Amadora Sintra esteja já a trabalhar no caderno de encargos para incluir cirurgias com internamento, a partir de 2021.
O encaminhamento de doentes não Covid para o setor privado, em lista de espera para cirurgias não urgentes, manter-se-á em 2021?
O desejo da maioria dos hospitais, como refere Daniel Ferro, seria que no fim de janeiro, pudessem retomar a atividade. “Era sinal de que teríamos uma incidência de assistência Covid que nos permitiria ir reabrindo alguns blocos, alguns recobros e algumas enfermarias”, aponta o administrador.
Com um plano definido até ao final do ano e outro em preparação para os primeiros meses de 2021, Luis Drummond Borges afirma que tudo dependerá do tempo durante o qual “esta pressão sistémica existir”.
Também Ana Sofia Ferreira, membro do Conselho de Administração do Hospital Garcia da Orta revela que o hospital prevê continuar a implementar soluções de externalização, “nomeadamente enquanto durar a pandemia e a reabertura da nossa Unidade de Cirurgia de Ambulatório estiver condicionada”. Até porque, como sublinha, Artur Vaz, ainda que haja um decréscimo de infetados com Covid-19 na comunidade, esse não é ainda sentido na procura dos hospitais, a qual se mantém muito elevada.