O satélite desenvolvido pela Europa em conjunto com os Estados Unidos para ajudar os cientistas a acompanhar a subida do nível médio do mar (um dos efeitos mais nefastos das alterações climáticas), foi lançado este fim-de-semana.
O Sentinel-6 Michael Freilich contém tecnologia de ponta, capaz de medir a altura do nível médio do mar com uma precisão sem precedentes.
“Este é um parâmetro extremamente importante para a monitorização climática”, explica Josef Aschbacher, diretor do departamento de Observação da Terra da Agência Espacial Europeia.
Milhões de pessoas vivem em zonas costeiras que podem encontrar-se numa posição vulnerável nas próximas décadas, uma vez que o degelo e o aumento em volume dos oceanos – causado pelo aumento da temperatura – fazem subir o nível médio do mar.
De acordo com Josh Willis, cientista da NASA, as linhas costeiras vão alterar-se drasticamente num espaço de 30 anos e, por esse mesmo motivo, a monitorização que se vai fazer com este satélite é essencial para compreender o ritmo das mudanças climáticas e prever o impacto que estas vão ter na vida das pessoas.
“Sabemos que o nível médio do mar está a subir”, disse Aschbacher à The Associated Press, fazendo referência à crescente velocidade da subida do nível médio do mar. Se desde os anos 90, o nível médio do mar aumentava cerca de três milímetros por ano, nos últimos dois anos, assistimos a uma aceleração do fenómeno – que resultou numa subida de cinco milímetros.
Embora as medições do nível médio do mar sejam, por vezes, realizadas à altura do solo (em portos e outras zonas costeiras), estas não fornecem o padrão e amplitude uniformes necessários. Em termos comparativos, segundo Aschbacher, este satélite vai conseguir mapear 95% do oceano livre de gelo da Terra a cada dez dias.
“Se estivermos [a falar de medir o nível médio do mar] à altura dos oceanos, temos um dispositivo de medição em Amesterdão, outro em Banguecoque e ainda outro em Miami. Mas, com um satélite como o [Sentinel-6 Michael Freilich], podemos comparar estas medições num plano global, porque um mesmo instrumento voa sobre todas estas áreas”.
A componente mais poderosa do satélite é o altímetro radar Poseidon-4, nomeado em homenagem ao deus grego do mar. O instrumento em questão mede o tempo que os sinais de radar demoram desde a superfície do mar até regressarem ao satélite – permitindo calcular a distância entre o sensor e a superfície refletora.
O novo satélite irá recolher medições com maior resolução do que os seus antecessores, permitindo aos investigadores observar mais de perto as especificidades dos oceanos, nomeadamente as que se encontram ao longo das linhas costeiras.
Além disso, outros instrumentos presentes no satélite vão permitir aferir a temperatura e humidade atmosférica que podem, por sua vez, ajudar a melhorar as previsões meteorológicas globais.
O satélite entrou em órbita este sábado a partir da Base da Força Aérea de Vandenberg, na Califórnia, a bordo de um foguete SpaceX Falcon 9.
O seu nome esconde também outro segredo. Serve de tributo ao falecido diretor da Divisão de Ciências da Terra da NASA, Michael Freilich, um oceanógrafo que foi fundamental para que a agência espacial dos EUA se juntasse à missão europeia.
“Devemos-lhe muito e ele mais do que ninguém merece ter este satélite com o seu nome”, disse Aschbacher. “Lamento muito que ele não possa carregar pessoalmente no botão amanhã”.
A Europa e os Estados Unidos dividiram o custo de produção e operação do satélite, estimado em 900 milhões de euros. Este valor inclui o lançamento de um satélite-gémeo chamado Sentinel-6B, em 2025.
Esta é a primeira vez que se verifica a colaboração dos Estados Unidos no projeto Copernicus, o Programa de Observação da Terra da União Europeia. Mas isto não significa que a Europa e os Estados Unidos nunca tenham cooperado no passado. A NASA e alguns organismos europeus têm uma longa história de colaboração científica.
Em comum, têm o desejo de zelar pelo ambiente. “Todos sabemos que [a Terra] está a sofrer enormes mudanças, mudanças extremamente rápidas e mudanças que nunca tivemos antes neste planeta, com uma velocidade e intensidade causadas, obviamente, pelos humanos”, disse Aschbacher. “E precisamos de compreender como este planeta funciona para a nossa própria sobrevivência, para o nosso próprio futuro.”