Está prestes a começar o sétimo programa Cascais Surf para a Empregabilidade, o primeiro presencial depois da pandemia. Será apenas uma dúzia de pessoas – mas já costuma ser assim – que passará cinco semanas entre ensinamentos nas salas da Universidade Nova SBE, em Carcavelos, no mar lá em frente, para as aulas de surf, e num cantinho do areal, perfeito para as sessões de ioga. A única condição? Não terem emprego, mas vontade de reverter essa situação. A frequência é gratuita.
António Pedro Sá Leal, 49 anos, é o mentor da associação Surf Social Wave, criada em 2017 por nove pessoas, com a intenção de retribuir a este desporto aquilo que ele lhe deu a vida toda. O empreendedor esteve, desde cedo, ligado a eventos nesta área, criou uma revista gratuita sobre surf e ainda escreveu um guia das melhores ondas. Chegado a este ponto, sentiu que deveria preocupar-se também com a questão social.
No ano passado, depois de uma experiência falhada com o Instituto de Formação Profissional, a associação aliou-se à Câmara de Cascais para criar um programa para adultos desempregados, tal como tinha sido imaginado. Hoje, a Surf Wave Social financia-se também pelas aulas que dá e pela organização do campeonato nacional de Body Surf – este ano, estes fundos caíram para metade. Vale-lhes terem ganho um financiamento chamado Parcerias para o Impacto e assim garantirem que, até ao final de 2022, conseguem assegurar quatro destes programas por ano e assim chegar, pelo menos, a 40 pessoas anualmente.
A média de idade destes alunos é de 33 anos, sendo que 60% são homens, normalmente licenciados ou mestrandos. E o índice de êxito do programa, segundo o seu mentor, é de 70%, o que quer dizer que tem sido esta a percentagem de pessoas que encontraram emprego na área que queriam ou criaram o seu próprio negócio, depois de frequentarem o programa – dentro ou fora do universo do surf.
Este desporto funciona aqui essencialmente como desbloqueador de emoções. “Também se transferem uma série de competências que são necessária à prática do surf para a nossa vida”, explica António Leal. Note-se que os alunos podem nunca ter entrado no mar em cima de uma prancha. No entanto, sabem que terão duas aulas por semana, ao longo de todo o curso, assim como o mesmo número de sessões de ioga. Também haverá momentos de coaching individual e em grupo, assim como palestras de oradores com histórias de vida disruptivas, tudo adaptado às quatro fases do processo (desconstrução, construção, ferramentas e mentoria). No final das aulas, mantém-se a mentoria para dar resposta a qualquer pedido de ajuda no processo de reintegração no mercado de trabalho.
Respondendo à interrogação do título, e tendo em conta esta experiência concreta, a resposta tenderá a ser sim, o surf pode ajudar a diminuir o desemprego.