“Que felicidade voltar às aulas, nem que sejam online”, comentou o aluno Paulo Dias, no Facebook, após participar esta quarta-feira, 21, no reinício das lições da US Virtual (USV), projeto digital da RUTIS-Rede de Universidades Seniores, gratuito e acessível a qualquer pessoa com mais de 50 anos. Atualmente, estão inscritos na USV cerca de 1 300 alunos.
Mas aquele número de estudantes seniores que agora têm aulas via USV não representa, necessariamente, um sinal positivo. Do outro lado da moeda estão 92 universidades seniores (25% das 368 instituições em funcionamento no País até ao início da pandemia da Covid-19) que não tiveram condições para abrir (quatro delas anunciaram mesmo o fim dos seus projetos). Contas feitas, dos 62 mil alunos seniores existentes até março passado, quando surgiram os primeiros casos de infeção pelo novo coronavírus entre nós, perto de 40 mil não estão a ter aulas. “É um número muito alto e com gravíssimas consequências na saúde física e mental, representando um aumento enorme do isolamento e da solidão”, diz à VISÃO Luís Jacob, presidente da RUTIS.
As 92 universidades seniores que agora não abriram tomaram essa decisão, sobretudo, por receio do aparecimento de surtos de Covid-19 – a média etária dos alunos situa-se entre 65 e 75 anos, colocando-os num grupo de risco. Mas em alguns casos somaram-se àquele receio dificuldades financeiras, resultantes de uma drástica queda no número de estudantes (e, por tabela, nos pagamentos das quotas, a única fonte de receitas destas instituições), o que, entre outros constrangimentos, não permitiu fazer nas instalações dos estabelecimentos as adaptações sanitárias impostas pela pandemia. Por tudo isto, 36 universidades seniores (10% do total) optaram por abrir apenas com aulas online.
40 mil seniores estão sem aulas. “É um número muito alto e com gravíssimas consequências na saúde física e mental, representando um aumento enorme do isolamento e da solidão”, diz o professor
Luís Jacob
Luís Jacob contrapõe que a RUTIS fez em tempo um plano de contingência, e que as universidades seniores “não podem ser comparadas aos lares nem aos centros de dia”. Os alunos são “pessoas ativas que têm uma vida autónoma”.
O certo, porém, é que as 240 instituições (65% do total) que “abriram normalmente” no atual ano letivo fizeram-no “com menos aulas e metade dos alunos”, como informa Luís Jacob. É evidente, pois, o receio de boa parte dos estudantes de serem infetados, se forem às aulas. Dentro da normalidade, cada aluno desloca-se três dias por semana à universidade, para frequentar cinco disciplinas, num horário que totaliza cinco horas semanais.
A pandemia veio travar um fenómeno galopante: desde o ano letivo de 2008/2009 até recentemente, o número de universidades seniores triplicou, abrangendo todo o País, do Continente às Regiões Autónomas. Agora, está à vista “um problema de sustentabilidade que nos preocupa bastante”, diz o presidente da RUTIS. Luís Jacob aconselha as instituições a contactar “parceiros privilegiados”, como as câmaras municipais, para obterem auxílio financeiro.
Outra prioridade tem a ver com a necessidade de as instituições, sobretudo as que não abriram, manterem o “contacto com os alunos”. Caso um grupo se perca, “será muito difícil voltar a reuni-lo, depois de a pandemia passar”, alerta o presidente da RUTIS. E apela: “É importante que os alunos continuem a pagar as quotas, mesmo não havendo aulas e nem que seja com um valor simbólico, para que tenham a universidade daqui a uns meses”, quando a tão esperada vacina contra o SARS-CoV-2 chegar. Antes da pandemia, a média nacional de custo das quotas por aluno era de dez euros por mês.
A RUTIS também solicitou um apoio ao Instituto da Segurança Social, destinado a meia centena de universidades seniores em maior risco de encerramento, por se situarem em pequenas localidades e porque aí os alunos pagam uma mensalidade mais baixa. E o pedido é parco: dois mil euros para cada uma bastam.