No dia 17 de outubro, sábado, às três da tarde, pede-se a todos aqueles que gostam de ouvir música ao vivo e de dançar sem constrangimentos que saiam à rua para formar uma fila. Este é um movimento organizado pelas salas de espetáculos com programação própria e acontece em quatro cidades, em simultâneo. Em Lisboa, por exemplo, a concentração ordenada e de acordo com as regras pandémicas, começa à porta Lux, em Santa Apolónia, e, espera-se que chegue ao MusicBox, debaixo do arco da Rua Cor-de-Rosa, no Cais do Sodré, 2,7 quilómetros mais à frente.
Além das duas míticas salas de espetáculo lisboetas, também se juntaram a este apelo o pop up Casa do Capitão, no Hub Criativo do Beato, O Titanic Sur Mer, junto ao rio, o Damas, na Graça, o Village Underground, no museu da Carris, o RCA Club, em Alvalade, o Hot Clube, só de música jazz, o Lounge, que comemora agora 21 anos, o B.Leza, especializado em música africana, o Valsa, na Penha de França, e a Casa Independente, no largo do Intendente. Mas também há associados no Porto (Maus Hábitos, Hard Club, Ferro Bar, Passos Manuel, Plano B, Woodstock 69 e Barracuda), Évora, Viseu, Torres Vedras, Funchal, Vila Real e Coimbra.
Perto de 300 artistas já se associaram ao movimento #aovivooumorto, como Gisela João, Selma Uamusse, Branko, Tomás Wallenstein e Hélio Morais
O recém-nascido Circuito, que é o que aglomera esta gente toda que emprega milhares de pessoas da área da cultura,, diz de si mesmo que se trata da “principal rede nacional para a valorização, proteção e desenvolvimento das salas e clubes com programação própria de música ao vivo”. Quer isto dizer que se trata da união de espaços que promovem espetáculos com fundos próprios, por sua conta e risco. E depois mostram-se os números, que nunca mentem: neste momento, a rede é constituída por 27 salas de todo o País (sujeito a aumentar), que foram responsáveis, em 2019, por 7 537 atuações para uma audiência de mais de um milhão de pessoas. Perto de 300 artistas já se associaram ao movimento #aovivooumorto, como Gisela João, Selma Uamusse, Branko, Tomás Wallenstein e Hélio Morais. Aliás, alguns deles aparecem neste vídeo, realizado pro-bono pela agência Partners, para resumir ao que vem este Circuito. A iniciativa, que não há de ficar por aqui, foi colher inspiração internacional, pois a questão é global e replica-se em vários países, a casos como o britânico #saveourvenues ou o americano Save Our Stages.
A sobrevivência das salas do Circuito (e de muitas outras), fechadas desde março, por causa da pandemia de Covid-19, está em risco. E por isso a manifestação, marcada para este sábado, pretende dar visibilidade ao grave problema e apelar à “implementação urgente de medidas de apoio e estratégias públicas de proteção e valorização deste setor”, lê-se no manifesto, escrito ao mesmo tempo que os ministros dedilhavam no Orçamento de Estado.
Nesse dia, formar-se-á então uma fila, ordeira e com as devidas distâncias, à porta do Lux Frágil, em Lisboa, do Maus Hábitos, no Porto, do Carmo 81, em Viseu, e da Sociedade Harmonia Eborense, em Évora. As distâncias de dois metros estarão marcadas no chão, pede-se que os manifestantes se juntem dois a dois, de máscara, e que usem auscultadores. É que haverá uma emissão de três horas da rádio circuito online, a ser transmitida em direto a partir do Lux, pela mão de Pedro Ramos, e que dará conta do que estará a acontecer na rua, nas quatro cidades, ao segundo. E, claro, no entretanto passará música, daquela que nos há de pôr a dançar, sem tréguas.