O exemplo mais recente é bem elucidativo. Ocorre em plena crise do vídeo que mostrava António Costa a referir-se de forma pouco elogiosa aos médicos. A contenda até já está sanada, depois da reunião de urgência entre o primeiro-ministro e o bastonário da classe, Miguel Guimarães. A cobertura completa do caso estava, claro, na plataforma Google News. Uma espécie de agregador de notícias dos meios profissionais com expressão online.
Só que, pelos vistos, ser um meio jornalístico não é condição fundamental para ser incluído naqueles resultados. Veja-se o que aconteceu com o vídeo feito no fim da mais recente entrevista feita pelo Expresso a António Costa. Divulgado inicialmente por WhatsApp, acabou incorporado no canal do Chega TV no Youtube. E depois aparecia no meio da cobertura completa sobre o assunto que a plataforma oferece. Tal e qual como se fosse um qualquer órgão de comunicação social.
Gerado por algoritmo
“Os resultados no Google News são gerados por algoritmos com base na informação disponível sobre um determinado tema. E os vídeos inscritos no Youtube [site que foi comprado pela Google em 2006] são agregados desde que estejam relacionados”, disse à VISÃO o departamento de comunicação da Google – que justifica assim que um vídeo do Chega, disponível num canal criado no Youtube com o nome daquele partido político, possa ser apresentado como um conteúdo jornalístico.
Nada que, ainda assim, levante questões à ERC – Entidade Reguladora da Comunicação Social. Questionada pela VISÃO, limitou-se a verificar que “o ‘CHEGA TV” surge identificado, nas pesquisas feitas naquele motor de busca, como um espaço de um partido político”. E que tanto a recolha, como a seleção e apresentação de conteúdos feita pela Google News “é da sua responsabilidade” e “obedece aos critérios por esta definidos.”
Essa explicação será a mesma para tudo o que se encontra na plataforma. Por exemplo, outro dos sites que continua a estar incluído nos resultados do Google News é o dos Bombeiros 24, há muito denunciado como desinformação.
Informação sem jornalistas…
Não é a primeira vez que há entendimentos diferentes do que pode ser apresentado como um site de informação geral. Recorde-se o caso do Notícias Viriato, que o projeto Monitorização de propaganda e desinformação nas redes sociais do Medialab do ISCTE/Instituto Universitário de Lisboa, descreveu como “site de propaganda” – mas que tinha sido registado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social como “publicação periódica de informação geral”. Isto apesar de não ter qualquer jornalista entre os seus responsáveis. A justificação para esta aparente contradição foi que “o site cumpre os requisitos” e “a lei não obriga sites de informação a ter jornalistas.”
Não é a primeira vez que se conclui que o algoritmo do YouTube pode dar força aos canais de extrema-direita –como, reconhecidamente, aconteceu nas últimas eleições no Brasil, que elegeram Jair Bolsonaro.