Foi no dia 24 de julho que a Direção Geral da Saúde (DGS) publicou uma norma, relativa ao rastreio de contactos, que levantou um debate acesso sobre a possibilidade de a mesma traduzir a vontade do Governo em reduzir o número de testes efetuados à Covid-19 no nosso país.
A causa da discórdia prendia-se com o conteúdo do ponto 19, no qual se lê: “nos contactos de alto risco pode ser considerada a realização de teste laboratorial molecular (RT-PCR ou rRT-PCR), de acordo com a avaliação do risco pelas Autoridades de Saúde, especialmente nas situações de surtos/clusters e em pessoas com exposição prolongada ao caso (como, por exemplo, coabitantes), sobretudo, em espaços fechados e pouco ventilados”.
Após as dúvidas levantadas sobre se o número de pessoas testadas iria diminuir ou não, a 1 de agosto a DGS acabou por desmentir categoricamente “a restrição da realização de testes a contactos de casos confirmados” numa nota de imprensa, onde afirmava ainda que “a possibilidade da realização de testes a contactos de casos confirmados de COVID-19 sempre dependeu, e continua a depender, da estratificação de risco efetuada pelas autoridades de saúde”.
Dois dias mais tarde, António Lacerda Sales, Secretário de Estado da Saúde, frisou, em conferência de imprensa, que, nessa mesma semana, “Portugal fez, em média, mais de 13 300 testes por dia” assegurando, “não há qualquer orientação para testar menos”.
Observando os gráficos do site Our World in Data, atualizados com informações do Serviço Nacional de Saúde, laboratórios privados e universidades de todo o País, é possível verificar que, entre 24 de julho e um de agosto, houve uma diminuição no número de testes realizados por 1000 habitantes. Ainda assim, no mesmo período, e segundo os relatórios da DGS, o número de novos casos de Covid flutuou entre os 111 e os 263, por vezes diminuindo, por vezes aumentando, sem apresentar um movimento exponencial, nem decrescente nem ascendente.
O leve aumento de testagem por 1000 habitantes, que se verificou entre 1 e 6 de agosto, é acompanhado por um número diário de novos casos com flutuações semelhantes às registadas entre 24 de julho e um de agosto , por vezes até menores, não ultrapassando nunca os 213 novos casos diários.
O gráfico mostra ainda que, a 31 de agosto, Portugal atingiu uma média diária de 14 mil testes à Covid-19, valor que não era atingido desde 21 de maio (14 600). Resta saber se o aumento de testes espelha a atividade desenvolvida pelo Serviço Nacional de Saúde ou se a atividade dos laboratórios privados desempenha um papel relevante para a média final.
Existe ainda a possibilidade de os números refletirem o regresso ao posto de trabalho de pessoas que têm de ser testadas várias vezes, a retoma de cirurgias, antes das quais os pacientes têm de ser testados ou a reabertura dos aeroportos, acompanhada de um incremento no números de viajantes aos quais é pedido um teste à Covid antes de levantar voo.
“É um exercício especulativo, não necessariamente negativo, o de equacionar as várias causas para este aumento”, afirma Ricardo Mexia, Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública. “Neste momento testam-se pessoas que não se testavam em março, por diversas razões. Os dois momentos são muito difíceis de comparar”, acrescenta o médico.
De facto, ao analisar um outro gráfico, que mostra o número de testes efetuados por cada caso de Covid-19 confirmado, a tendência é a diminuição do número de testes, o que pode corroborar as hipóteses colocadas anteriormente. A 31 de agosto, Portugal realizou 46 testes por caso positivo, sendo 83,3 o valor máximo alguma vez realizado no nosso país.
Ainda assim, quando comparado com o resto do mundo, desde março que o Portugal sempre se enquadrou no grupo de nações que mais realizaram testes por 1000 habitantes.