É sabido que a canábis e os seus derivados têm propriedades benéficas que podem servir de tratamento a diversas doenças nos humanos, desde a esclerose múltipla à depressão. Mas a utilização de um extrato particular deste psicotrópico parece estar cada vez mais nada moda para tratar animais, como os cães, gatos e cavalos.
Muitos donos de cães têm-se questionado se, de facto, o CBD, ou canabidiol, é eficaz no controlo da ansiedade dos animais. Como conta o Washington Post, muitos labradores ficaram perturbados devido ao lançamento constante de fogo de artifício no início do verão, num bairro em Washington. Há relatos de que os medicamentos receitados pelos veterinários para acalmar os animais pareciam paralisá-los, deixando-os num grande estado de sofrimento. Foi aí que alguns donos resolveram experimentar o óleo de CBD para reduzir a ansiedade dos seus amigos de quatro patas.
O CBD, abreviatura de canabidiol, é um dos mais de 100 compostos encontrados na planta canábis. Tem sido alvo de estudos há vários anos e as descobertas indicam que o componente tem efeitos terapêuticos muito positivos. Além disso, não tem efeitos psicoativos, não causa dependência, não tem contra-indicações formais e é recomendado para o tratamento de diversas doenças graves, inclusive em crianças. Nos animais, pode ser utilizado para tratar problemas de ansiedade e algumas doenças de pele. Outros estudos indicam, ainda, que pode ser eficaz no tratamento da artrite e no controlo de convulsões.
De acordo com o Brightfield Group, uma empresa americana responsável pelo estudo de canábis no mercado, concluiu que o consumo de CBD para animais de estimação aumentou 946% em 2019. Este aumento significativo deveu-se sobretudo, à aprovação da Farm Bill 2018, a legislação dos Estados Unidos que reautorizou muitas despesas no projeto de lei agrícola de 2014, e que diminuiu as restrições legais federais à compra de CDB.
Mas as pesquisas avaliadas por pares relacionadas com os efeitos do CBD nos cães ainda são muito limitadas, sendo que os testes realizados contavam apenas com amostras muito pequenas do produto. Apesar do notório ceticismo presente em torno da utilização deste extrato da canábis, há muitos snacks e cápsulas de CBD à venda em lojas online, mesmo sem a aprovação da Food and Drug Administration, a agência americana responsável por garantir a segurança de medicamentos humanos e veterinários. Assim sendo, os responsáveis pela saúde animal não têm autorização para prescrever o medicamento.
Gail Golab é veterinária e especialista em assuntos científicos e políticas públicas da American Veterinary Medical Association, associação sem fins lucrativos que representa os veterinários dos Estados Unidos. Citada pelo Washington Post, admite que é preciso ter alguma cautela no que concerne ao consumo de CBD por parte dos animais. “Não é que não vejamos potencial nesse produto, porque vemos. Queremos é que o seu potencial seja demonstrado por meio da aprovação do FDA e queremos ter a certeza de que os donos podem confiar que o que estão a dar aos seus animais é algo que realmente os ajudará”, acrescenta.
Já segundo o veterinário Daniel Mills, da Universidade de Lincoln, na Inglaterra, o CBD “provavelmente deixará o animal mais relaxado de uma forma menos notória. Pode ajudar com a dor”, disse, citado pelo Washington Post. Mas dado o aumento substancial do consumo do produto, afirma que recomenda sempre às pessoas para terem o máximo de cuidado porque trata-se de “modas que vêm e vão”. No entanto, não descarta a possibilidade de CBD ter, realmente, propriedades medicinais que poderão ajudar os animais no tratamento de algumas doenças.
Os especialistas alertam, ainda, para o facto de que, se os donos quiserem experimentar o CBD nos seus amigos de quatro patas, devem certificar-se de que o produto é de origem animal. Isto porque o CBD destinado para o consumo humano pode ter ingredientes adicionados que não são saudáveis para os animais. Para além disso, o medicamento não deve conter THC, ou tetra-hidrocanabinol, elemento da canábis responsável pelas reações psicotrópicas nas pessoas que, quando ingerido pelos animais, pode deixá-los doentes. Também em termos de dosagem, é necessário ter alguns cuidados começando pelas baixas quantidades e ir vendo como o animal reage.