A lição “não assines sem antes ler” não parece aplicar-se ao mundo digital, mas a verdade é que, ao ignorarmos esta lista de condições, estamos a entregar de bandeja, uma chave que abre a porta para a nossa vida, muitas vezes privada. Estamos constantemente a fornecer informações sobre nós próprios, mesmo por vezes não tendo consciência disso. Ao instalarmos uma aplicação e ao criamos uma conta, assinamos um pequeno contrato, os termos de utilização, que tendemos a ignorar.
Em 2012, numa altura em que contava com cerca de 100 milhões de utilizadores, o Instagram foi adquirido pelo Facebook por perto de mil milhões de dólares. Zuckerberg, que temia a concorrência e quis garantir a sua hegemonia, fez com que a plataforma começasse a render (ainda mais).
Um ano depois, foram introduzidos anúncios pagos nos feeds dos instagrammers e no início deste ano, os stories (função onde fotos e vídeos partilhados desaparecem passadas 24 horas) foram bombardeados com conteúdo comercial.
De acordo com a rede social, 500 milhões de contas utilizam os stories, e um terço das histórias mais vistas provêm de negócios. Estas visualizações fazem crescer os bolsos do Instagram – 20 mil milhões de dólares foi o valor alcançado através de publicidade, só no ano de 2019.
Se faz parte das mais de 1 milhão de pessoas que utilizam o Instagram todos os meses, já deve ter reparado que a rede social parece sempre saber o que lhe vai na mente. Mas como?
Adam Mosseri, CEO da rede social, garante que a app não consegue ouvir as nossas conversas. Mas a verdade é que parece que um espião tira notas de tudo o que dizemos. Mosseri garante que, quando um anúncio revela exatamente o que estamos a pensar, ou é pura coincidência, ou é pelo simples facto de estarmos a interagir (sem muitas vezes darmos conta) com esse tipo de conteúdo.
O Facebook serve como um género de fornecedor de informação que comunica ao Instagram aquilo que acredita que gostaríamos de ver. Esta informação provém das duas aplicações, do nosso telemóvel e do nosso comportamento em páginas da web que o Facebook não detém.
Se pretende limitar a informação a que o Instagram tem acesso, siga estas dicas:
Elimine parte dos seus dados
Não se lembra que informações partilhou com o Instagram? Então vá às definições da aplicação, selecione “Privacidade e Segurança” e de seguida em “Dados da Conta”.
Pode consultar informações como a sua data de nascimento, as datas em que alterou a sua palavra passe, números de telemóveis associados, quando fez login e logout na sua conta e os históricos de pesquisa (que podemos apagar na barra de pesquisas, mas que ficam sempre disponíveis nesta página).
E se o que acontece em Vegas, fica em Vegas, o que se publica no Instagram, fica no Instagram. Todos os seus gostos, os seus comentários, as suas interações.
E é possível ter uma cópia de todos estes dados se formos, mais uma vez, a “Privacidade e Segurança” e de seguida a “Descarga de Dados”. Após inserir o seu endereço de email, receberá na sua conta associada um género de “extrato” onde todos os seus “movimentos” são descritos.
É também possível gerir os contactos que sincronizou a partir do telemóvel. Esta definição permite que o Instagram sugira amigos que possa querer seguir de acordo com a sua lista telefónica, mas também permite conhecer a sua atividade social, que, de acordo com o Instagram, permite “fornecer uma melhor experiência para toda a gente”.
Não partilhe a sua localização
Se utiliza, tal como a grande maioria das pessoas, o Instagram no telemóvel, é possível que tenha autorizado a aplicação a aceder à sua localização. É necessário divulgar a sua localização atual com a aplicação se quiser inserir o local onde se encontra (ou encontrava) num post ou story. Mas não precisa de ter esta funcionalidade sempre ligada.
Caso pretenda deixar de partilhar a sua localização, tem de aceder às definições do seu telemóvel, e não da app.
Se tiver um iPhone, vá a Definições, Privacidade, e de seguida a Serviços de Localização. Procure pelo Instagram e aí poderá escolher se quer partilhar sempre a localização, se somente quando está a utilizar a app ou nunca.
Se possui um Android, carregue nas Definições, vá às Aplicações e encontre o Instagram. Nesta página (por vezes num separador denominado “Permissões da Aplicação”) pode decidir se pretende autorizar o acesso à localização, microfone, câmara, entre outros.
Controle os anúncios que aparecem
O Facebook é o servidor de anúncios do Instagram. O Píxel do Facebook é uma pequena porção de código presente em vários sites que permite “medir, otimizar e criar públicos para as tuas campanhas de anúncios” conforme descreve a Facebook For Business. Este Pixel recolhe a atividade realizada online (como por exemplo, ao adicionar algo ao carrinho de compras) e transmite-a a de modo a decidir que anúncios são mais adequados.
Na página de Política de Dados do Facebook pode ler-se “Os anunciantes, programadores de apps e publicadores podem enviar-nos informações através das Ferramentas de Negócios do Facebook que utilizam, incluindo os nossos plug-ins sociais (como o botão Gosto), o Início de Sessão do Facebook, as nossas APIs e SDKs ou o Píxel do Facebook”. Ou seja, estes parceiros do Facebook divulgam informações que são facultadas a outros sites.
Dentro da app, é difícil controlar as publicidades a que somos expostos. Podemos eliminar individualmente um anúncio ao carregarmos nos três pontos que aparecem por cima duma imagem ou vídeo e pedir para ocultá-lo. Mas para mudar o que nos aparece no feed ou nos stories, é necessário ir ao Facebook.
Atualmente ainda não é possível pessoas que não tenham uma conta do Facebook associada ao perfil do Instagram, ajustarem as suas preferências.
Nas preferências de publicidade é possível observar e eliminar os nossos interesses, quais as empresas que divulgaram informação nossa, definições de anúncios e anúncios que ocultámos.
Uma maneira de controlar como os nossos dados são utilizados é através do separador “A tua informação” onde podemos perceber se o Instagram tem em conta, por exemplo, a formação, para gerar anúncios.
Corte o mal pela raíz
E se gosta de ver a sua informação bem protegida de terceiros, a melhor opção, e também a mais óbvia, é a de apagar a sua conta do Instagram. É impossível apagar a conta através da aplicação (provavelmente uma tática para não abandonarmos este mundo cheio de cãezinhos e destinos paradisíacos). Para o fazer precisa de aceder a esta página. Se quiser fazer uma breve pausa deste universo de fotos e vídeos, pode também desativar a conta.