Um dos desafios para o Laboratório de Referência do Estado para a Ciência Lunar e Planetária da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST) passa por garantir que o módulo de exploração que faz parte da missão lançada na quinta-feira pouse em segurança na superfície do planeta vermelho, algo que ainda só os Estados Unidos conseguiram.
“O processo de aterragem é uma parte muito importante e de alta incerteza” num planeta que é conhecido por ser um ‘cemitério’ de programas espaciais, “porque é preciso penetrar a atmosfera marciana em sete minutos”, razão pela qual “os requisitos dos parâmetros ambientais atmosféricos devem ser muito precisos” para dar “os dados climáticos em primeira mão para os engenheiros”, sublinhou à Lusa a investigadora chinesa Xiao Jing.
Isto num planeta assolado por tempestades de areia e poeira, com grande impacto nas condições atmosféricas que obriga “a analisar alguns modelos básicos das atividades de tempestade de Marte”, a apresentar duas possíveis localizações de pouso, que já tiveram de ser alteradas”, explicou.
A cientista acrescentou que, “agora, mudou-se para uma localização que se chama ´Utopia Planitia’ porque nesta zona há menos atividades de areia e poeira”, uma enorme cratera atingida por um meteorito há milhões de anos.
Outro dos projetos em que está envolvida a MUST é a analogia geomorfológica entre Terra e Marte e a deteção e estudo do gelo das águas subterrâneas no planeta vermelho, na qual participa a investigadora chinesa Xu Yi.
O maior desafio passa por determinar a existência de reservas de água congelada ou de água líquida no planeta, explicou a professora assistente do laboratório da MUST.
No projeto anterior da Agência Espacial Europeia, os investigadores “descobriram que havia água líquida sob a superfície de Marte e o lago estava numa posição relativamente profunda”, pelo que desta vez a ideia é “usar os dados do radar chinês em Marte para analisar se há lagos de água líquida em outros locais”, acrescentou a cientista.
Já o diretor assistente do laboratório da MUST tem uma outra responsabilidade em mãos: “a minha pesquisa principal é se o ambiente de radiação de Marte é adequado para a vida”.
Isto porque “existem muitos dados experimentais que precisam ser simulados no solo (…) porque se podemos ir a Marte em busca de vida, (…) isso ainda não está claro, o que exige mais dados observacionais”, afirmou o professor associado.
“Estabelecemos um modelo de radiação de Marte, ou seja, como os raios cósmicos e os iões de alta energia do vento passam pela atmosfera de Marte para a superfície”, sendo necessária “uma avaliação precisa”, frisou o cientista.
Não sendo o objetivo primordial, o investigador português envolvido no projeto, André Antunes, resume uma das questões e motivação que ‘alimentam’ a missão e a preocupação dos cientistas do laboratório em Macau: “Do ponto de vista de descoberta, aquilo que nós gostaríamos de ter mais a médio prazo [seria] a descoberta de vida em Marte ou indícios de que a vida já existiu em Marte”.
Afinal, argumentou o investigador natural de Coimbra, “do ponto de vista de capacidade para albergar vida (…) ao contrário daquilo que se pensou originalmente com as primeiras missões (…) as condições existentes em Marte não são assim tão extremas, não são assim tão diferentes das condições que temos no nosso próprio planeta”.
Neste momento, o laboratório para a Ciência Popular e Planetária da universidade tem em mãos 11 projetos de investigação em Marte, concluídos ou em desenvolvimento, e vai continuar envolvido nos trabalhos de exploração relacionados com a exploração do planeta, espaço e vida extraterrestre.
Na quinta-feira, Pequim lançou a sonda “Tianwen-1” (“Questões para o Céu”, em chinês), lançada pelo foguete Longa Marcha-5, a partir da ilha tropical de Hainan, no extremo sul do país.
Aterrar em Marte é particularmente difícil. Apenas os EUA pousaram com sucesso uma nave em solo marciano, num feito alcançado por oito vezes, desde 1976. Os veículos espaciais InSight e Curiosity da NASA continuam a operar até hoje.
Se tudo correr bem, a sonda chinesa, movida a energia solar, do tamanho de um carrinho de golfe de 240 quilogramas, vai operar durante cerca de três meses.
JMC // PJA