Não se caminhará a pé, horas a fio, das Fontainhas à Foz, na noite mais longa do Porto, nesta terça, 23. “No São João, fica ao portão”; “Arraial? Só meia dúzia no quintal”; “A festa é como a sardinha, quer-se pequenina”; “Grão na asa, fica em casa”. Não há como fugir destes cartazes espalhados pelas ruas da cidade, em jeito de aviso.
Devido à pandemia Covid-19, a Câmara Municipal do Porto cancelou todos os festejos de São João. Não há transportes públicos durante a noite, cafés e lojas de conveniência encerram mais cedo (às 19h), assim como os restaurantes (fecham às 23h), a Ponte Luis I terá o acesso, pedonal e automóvel, cortado. E a autarquia promete vigilância apertada. “Não há memória de uma coisa assim”, lamentam-se os portuenses a quem é pedido, pela primeira vez em décadas, que fiquem em casa.
Sem arraiais, bailaricos, grelhadores de sardinha assada nas ruas, sem carrosséis nem farturas, as Fontainhas – o epicentro da festa – olham vazias a Ponte Luís I. O café/restaurante d’O Guindalense, junto aos Guindais, que depressa esgotava o repasto de sardinhas, broa e caldo verde ao jantar, com uma das esplanadas mais procuradas para ver o fogo de artificio, encerra às 18 horas, e reabre no dia 25.
O Jardim das Virtudes continua interdito. Na Rua de S. Vítor, só uma cascata sanjoanina foi montada na ilha do Doutor – este ano, não houve o habitual Concurso das Cascatas de São João. As (poucas) vendedoras de manjericos contam pelos dedos os vasos vendidos. Martelinhos, nem vê-los! Só os que enfeitam as montras das poucas lojas que teimaram em lembrar o Santo. Em Matosinhos, também o acesso às praias foi interdito pela autarquia.
Esta noite, não se olhará o céu a observar as centenas de balões de São João a subirem com a força do fogo e vento, dando aos boas-vindas ao Sol e ao verão. Não há música na Avenida dos Aliados, nem marteladas na cabeça na Ribeira, nem carrosséis e algodão-doce na Rotunda da Boavista. Até para o ano, São João!