As situações são diversas. Há pessoas que ficaram desempregadas porque as suas empresas reduziram a força laboral por causa da Covid-19 e outras com contratos de trabalho que terminaram no final de maio. Há também quem tivesse cirurgias marcadas em Portugal ou tratamentos oncológicos agendados no IPO de Lisboa. E há, ainda, mulheres grávidas que previam viajar dentro do período autorizado e famílias inteiras desejosas de passar férias na “terra”.
Umas situações são mais urgentes do que outras, mas todas merecem resposta, sublinha à VISÃO o empresário João M., que vive há mais de uma década em Moçambique e está, também ele, a tentar regressar a Portugal para resolver um problema de saúde. “Sabemos que estão a ser feitas diligências a nível diplomático, mas nada nos é dito oficialmente”, lamenta.
Desde meados de maio que a TAP não pode realizar voos comerciais entre Moçambique e Portugal. Até essa data, os voos ainda eram semanais, embora já tivesse sido decretado o Estado de Emergência no país. “Na eventualidade de ser preciso sair, sabíamos que tínhamos essa possibilidade”, lembra João M., “mas, de repente, houve uma completa proibição de voos internacionais. Apenas se mantêm alguns de carga, autorizados caso a caso.”
Nem João M. nem os restantes portugueses impedidos de regressar a Portugal questionam a decisão do Governo moçambicano de fechar o espaço aéreo por causa da Covid-19. Só não entendem a demora em avançar com voos de repatriamento, previstos como exceção no mesmo decreto-lei que estabeleceu o Estado de Emergência. “A comunicação por parte do nosso consulado é quase inexistente – apenas nos dizem que temos de aguardar, coisa que fazemos há várias semanas.”
A VISÃO também contactou o consulado português em Maputo, sem obter qualquer resposta.
Face a este silêncio, as dúvidas dos portugueses retidos em Moçambique são muitas. “Será que é uma questão de dinheiro? Porque nós temos os bilhetes comprados para a TAP – o Estado português nem gastaria nada connosco”, sugere o empresário. “Não podemos é continuar à espera indefinidamente e nesta ignorância. Não queremos criar tumultos, mas as pessoas estão desesperadas.”