A última noite foi de fortes emoções. Chorar a rir com os diretos do Bruno Nogueira foi uma coisa normal nos últimos dois meses. Mas chorar de comoção com a ternura nos olhos de Bruno Nogueira, para depois rir com algumas das suas tiradas mais nervosas e em pânico dos últimos serões, é outra. A espécie de programa que ganhou o nome “Como é que o bicho mexe” e um elenco muito heterogéneo chegou ao fim já passava da uma da manhã. Esperava-se algo diferente, mais do que as simples conversas entre amigos que Bruno dava início escudado no seu escritório. Desta vez não houve lugar para um copo de vinho branco, só chocolates – tal eram os nervos.
O desafio lançado era diferente e parecia também ele simples: “vamos para a rua e quem costuma ver o direto põe luzes de Natal, mas malta, não saiam de casa”. Bruno Nogueira estava longe de imaginar a insanidade que se seguiria. Com um genérico tocado e assobiado ao vivo, com Dillaz na rua, às 23 horas apanhou boleia de Nuno Markl na zona da Parede, na linha da Cascais, e seguiu caminho para Lisboa pela Avenida Marginal. Qual cortejo de casamento, com comitiva própria e dezenas de carros a juntarem-se ao dele a buzinar. Às janelas, às varandas ou já na rua, as pessoas mostraram as suas árvores e luzes de Natal com um orgulho de “dever cumprido”. Inesperado o momento em que numa rotunda, um outdoor gigante tinha um palavrão de quatro letras escrito. Bruno ficou incrédulo, Markl já sabia da partida.
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Em jeito de balanço
As conversas desta noite foram mais de agradecimento e balanço de dois meses bem passados – de uma quarentena aliviada pelos disparates insanos de uma espécie de elenco. Jessica Athayde, (Mariana Cabral) Bumba na Fofinha, Inês Aires Pereira e Beatriz Gosta (na rotunda de Rio tinto, no Porto) representaram a quota feminina de disparate com a graciosidade e a espontaneidade de cada uma. Com mais ou menos palavrões, todas acompanham o raciocínio de Bruno Nogueira.
E depois de muito ter insistido para um dia falar com Cristiano Ronaldo, Bruno Nogueira nem queria acreditar que o nosso craque ali estava: deitado na cama, de tronco nu, a falar a partir da conta de Instagram da sua Georgina Rodríguez, “só para dar uma força, amigo”. Agora fica a dúvida: qual deles é maior? Ontem, o carro de Nuno Markl parecia o autocarro da Seleção Nacional, a passar pelas ruas de Lisboa com Bruno Nogueira a acenar e a agradecer, sempre muito tímido. “Vão para dentro”, gritava de dentro do carro, comovido, mais do que nervoso. Um misto de sensações que não conseguiu processar.
Salvador Martinha, Albano Jerónimo (a mostrar o rabo pela segunda vez nestes diretos, mas desta vez na rua e aos gritos – chegámos aos 100 mil seguidores, era a deixa), João Manzarra e Ljubomir Stanisic juntos num momento romântico-tonto, cumprindo uma aposta antiga. Só percebe quem seguiu esta espécie de novela com guiões improvisados ao segundo. Uma realidade paralela que ganhou laivos de ficção e de muita comédia. A ligação a João Quadros, seu parceiro de Tubo de Ensaio, merecia bolinha vermelha no canto superior direito do ecrã… e ainda deixou Bruno mais desconfortável. Ai se ele já estava nervoso, ficou mais.
Em direto para o pólo norte
A tão esperada ligação ao Polo Norte, sim, ao Polo Norte também aconteceu, mesmo com a emissão de rádio de Cal Lockwood na estação Arctic Outpost a decorrer. Bruno e Markl agradeceram o trabalho de divulgação que tem feito com a música portuguesa. A verdade é que este radialista desconhecido passou de três para 67 mil seguidores por causa da brincadeira do bicho.
Ao longo da noite, todo o discurso era num tom “nervoso e lamechas”, mas faz parte e soube tão bem. Ver Bruno Nogueira desarmado e sem chão é de uma ternura infinita. A sua generosidade é também proporcional à sua altura e por isso está sempre naquele tom incrédulo que depois interrompe para desancar em Markl: “Fecha a janela, Markl. Não se consegue ouvir. Fecha a janela, Markl, está frio”.
Nuno Lopes foi quem lhe arrancou umas lágrimas mais rápidas. A amizade entre estes homens sente-se à distância de uma página de Instagram. São doces e verdadeiros uns com os outros. Dizem “gosto muito de ti” com muita facilidade e isso também sabe bem ouvir. É quando a vida real comove.
O fim estava a chegar e uma surpresa mais iria acontecer. Depois de terem deixado de dizer para que zona da cidade iam foi preciso adivinhar. Mas, à porta do Coliseu dos Recreios o mistério desfez-se. Markl conduziu de forma impecável (já o faz há oito anos!), sem se deixar afetar pelo pânico do amigo. Bruno Nogueira não sabia se havia de pôr máscara, mas manteve sempre a distância física que tanto lhe custa. Rapaz de abraços, dizem os outros amigos.
O que se segue é tão bom como as pessoas na rua com luzes de Natal na cabeça. Salvador Sobral e André Santos cantam e tocam na casa de banho do Coliseu, a mesma onde Markl aproveita para ir fazer xixi, também em direto. O caminho a seguir é para o palco, mas Nelson Évora anda ali pelos corredores a preto e branco do Coliseu de Lisboa aos saltos. Saltos de pura generosidade. Já numa sala de espetáculos vazia (como milhares de outras desde o início da pandemia), bem iluminada, Pipão (Filipe Melo) enche sozinho o palco com o seu piano. Era de prever, pois não houve noite que o músico, realizador e autor de banda desenhada não nos embalasse com o seu tocar de piano. Momentos íntimos que se mantiveram, apesar da grandiosidade de um palco vazio.
Na contagem decrescente para os últimos minutos de direto entram em palco boa parte do elenco. Todos de máscara, mas reconhecíveis, fizeram uma roda para ver Bruno Nogueira a cantar acompanhado por mais um músico (Rafa para os amigos, Nuno Rafael dos Clã). Sente-se que Bruno está a acalmar os ânimos, à medida que a nostalgia se apodera dos mais de 160 mil que se despediram do bicho. Assim de repente, sem aviso prévio, cai a ligação e nem houve tempo para lamechices. Mas, não faz mal, porque a promessa de voltar já está feita. Não é Bruno? Obrigada por cada noite deste útimos dois meses. Foi muito mais fácil sobreviver a este confinamento contigo e com os vossos palavrões e disparates. Foi bom fazer parte desta aventura virtual, também sem perder a capacidade de rir e chorar ao mesmo tempo.