Recebeu um “toque” de um número de telefone da Tunísia e está tentado a devolver a chamada? Se não conhece ninguém naquele país e o número é desconhecido, o melhor é não arriscar.
Multiplicam-se os casos de pessoas que recebem chamadas de números estrangeiros, sempre sem dar tempo para atender e que, ao devolverem a chamada, estão a ligar para números de valor acrescentado, sem saberem.
À VISÃO, tanto a PSP como a Deco confirmam o aumento dos relatos deste tipo de fraudes durante o período de isolamento social.
“Numa situação como aquela que estamos a viver, as pessoas têm ainda mais tendência para devolverem a chamada porque podem ter, por exemplo, familiares naqueles países ou até negócios em curso e estão preocupadas”, explica o Intendente António Santos, do departamento de Investigação Criminal da PSP.
Uma das técnicas mais perniciosas é colocar quem devolve a chamada em espera. À medida que o tempo passa, enquanto a pessoa aguarda por perceber o motivo do contacto, a conta do telefone aumenta. Nestes casos, as burlas chegam a “várias dezenas de euros”, revela António Santos. “Mas, muitas vezes, as pessoas resistem a fazer queixa porque os danos financeiros não são muito elevados”, acrescenta.
A associação de defesa do consumidor tem conhecimento de casos de débitos abaixo de €1. “Este esquema tem uma lógica de escala. Se conseguirem chegar a mil pessoas, já são mil euros”, explica o jurista da Deco Proteste, Tito Rodrigues.
A PSP incentiva os cidadãos a denunciarem os casos, mesmo que não pretendam fazer uma queixa formal: “É importante que nos façam chegar esses relatos para que possamos monitorizar essas situações e, se for caso disso, podemos abrir uma investigação sem ter sido apresentada uma denúncia”.
Muitos destes relatos são feitos nas redes sociais, que também podem ser usadas pelos lesados para contactarem com a PSP, sublinha o Intendente. “É importante estarmos a par desta realidade”.
A origem geográfica das chamadas é diversificada. A maior parte delas é feita a partir do Leste europeu, do Norte de África e da Ásia. Mas até de números do principado do Mónaco a Deco já recebeu queixas.
O departamento de Investigação Criminal da PSP ainda não conseguiu perceber como estas organizações estrangeiras acedem aos números de telefone portugueses, a compra de bases de dados junto de empresas nacionais é uma das hipóteses.
A palavra-chave é desconfiar. Avaliar se vale mesmo a pena arriscar devolver a chamada e, caso seja posto em espera, desligar imediatamente.
Através das chamadas vindas do estrangeiro não é possível aceder aos dados guardados no telefone atacado. Já quando se abrem links de origem desconhecida enviados por mensagem ou pelas redes sociais, todo o cuidado é pouco. “Esses links maliciosos funcionam como uma espécie de cavalos de troia que permitem o acesso de gente mal-intencionada aos dados guardados”, alerta Tito Rodrigues. “Não me canso de repetir: as pessoas não devem clicar em links de origem desconhecida.”
Textos com erros ortográficos ou gramaticais ou emails de origem parecidos aos de empresas ou organizações conhecidas devem levantar suspeitas.
O responsável jurídico da Deco sugere outra forma habitualmente eficaz de desfazer dúvidas: “Copiar o link e pesquisar num motor de busca. É provável que encontre na internet relatos de outras pessoas que já abriram o link e sofreram as consequências…”.
Na dúvida, o melhor é resistir à curiosidade.