O movimento Stay The Fuck Home, mais uma hashtag que o mundo não irá esquecer, não começou associado a uma qualquer instituição de saúde pública, para instigar ao isolamento social e à quarentena em tempo de Covid-19. A “culpa” é de Florian Reifschneider, um engenheiro de software de 29 anos, com uma empresa em Frankfurt, na Alemanha, atento desde os primeiros casos conhecidos na China, logo no início de janeiro, que quis mostrar a sua preocupação face ao que viria a ser, mais tarde, classificado de pandemia.
Por cá, Miguel Alves, 28 anos, com mestrado em Arquitetura, a trabalhar como designer gráfico, pensou: “Por que não adaptar as mensagens à nossa linguagem?”. Entretanto, Florian Reifschneider já lhe enviou até uma mensagem a agradecer a expansão da página, adaptada à língua do seu país. “O movimento surgiu meio escondido e achei graça, independentemente de ser um hashtag que parecia agressivo. Dá uma outra perspetiva da quarentena, de ter de estar em casa. Afasta-nos um pouco das más notícias, que claro que interessam, mas podem ficar de lado durante algum tempo.”
Nascido em Macau, depois de os pais terem ido para lá trabalhar quando a sua mãe estava grávida, voltou para Lisboa com cinco anos. Miguel Alves trabalha como freelancer e montou o seu próprio estúdio de design. Na verdade, as frases com sugestões para o que as pessoas podem fazer em casa e pensar durante estes meses de isolamento não estão a ser muito difíceis de “inventar”.
Na véspera do natal passado, Miguel fez uma rutura do tendão de Aquiles, que acabou numa operação em janeiro e quase dois meses enfiado em casa a recuperar. “Nessa altura reinventei a minha forma de viver em casa. Comecei a aprender italiano numa aplicação no telemóvel, a ver mais séries e a ler mais. Contactava com os amigos, mas tinha poucas visitas, falava muito ao telefone. No fundo, este isolamento é uma continuação do que já passei entre janeiro e fevereiro”, conta.
Em cerca de duas semanas, a página portuguesa Stay The Fuck Home já reuniu 101 mil seguidores, que começaram por ser todos portugueses, mas passados cinco ou seis dias apareceram muitos seguidores brasileiros. Agora são metade portugueses e metade brasileiros, têm entre 18 e 40 anos e são na maioria mulheres de cidades como Lisboa, Porto, São Paulo e Rio de Janeiro
Um dos primeiros posts, “Quarentena não foi férias”, teve quase 90 mil likes e tornou-se viral.
Por estes dias, e sem saber até quando vai manter a página com ideias e conselhos para melhor aguentar ficar em casa, Miguel Alves tem andado a pensar de que forma poderá transformar isto num negócio. Não o fez com esse intuito, mas começou a crescer, a ocupar mais do seu tempo e já foi contactado por diversas marcas, desde grandes operadores de telecomunicações até marcas da indústria alimentar, para criar parcerias. “Teriam de ser as marcas a adaptarem-se à minha linguagem e ao meu grafismo”, garante. E quando todos nós pudermos voltar a sair de casa, em saudável convívio social, Miguel Alves imagina montar uma plataforma, que se poderá chamar “Stay The Fuck Out”, com uma espécie de agenda cultural, sempre dentro desta estética gráfica de cor e texto. Nós agradecemos.