Poucas são as pessoas que resistem ao olhar doce e carente de um cachorrinho. É uma troca simples de afeto, até. Basta um simples olhar entre nós e o cão para se criar uma relação sentimental. Mas, talvez aquele olhar arrebatador, mesmo de quem está a pedir mimo, não seja assim tão aleatório. Os investigadores continuam a aprender dados novos sobre os nossos companheiros caninos: como funcionam os seus corpos, que histórias esconde o seu ADN e até mesmo porque podem ter uma razão tática para ficarem com uma aparência tão reconfortante.
É difícil resistir a um cão com o olhar tão ternurento, não é? É à evolução das espécies que podemos agradecer. Os cães têm um par especial de músculos acima dos olhos que lhes permite criar todos aqueles olhares sinceros que conhecemos. Existem até algumas evidências de que esses músculos foram desenvolvidos especificamente para ajudar os cães a relacionarem-se melhor com os humanos.
Hoje, as técnicas de controlo de reprodução são mais controversas do que costumavam ser, com algumas pesquisas a conferirem a ligação entre a castração e os resultados prejudiciais em algumas raças. Por exemplo, um estudo feito por Missy Simpson, epidemiologista veterinária da Morris Animal Foundation, “encontrou taxas mais altas de obesidade e lesão ortopédica em golden retrievers que foram corrigidas”. A esterilização e a castração, especialmente, em algumas raças de grande porte, quando muito jovens, estão ligadas a certas doenças mais tarde na vida. Outros estudos relacionaram a esterilização precoce e a castração a certos tipos de cancro, distúrbios articulares e incontinência urinária – embora os riscos tendam a variar de acordo com o sexo, a raça e as condições de vida do cão. Atualmente, a American Veterinary Medical Association diz aos veterinários que não há uma “recomendação única que seja apropriada para todos os cães”. Em alguns países, como a Noruega, a prática é aliás fortemente desencorajada. Já a Sociedade Americana para a Prevenção da Crueldade contra os Animais defende a esterilização ou a esterilização precoce de todos os animais de companhia aos dois meses ou aos dois quilos de peso, apregoando os benefícios reais dos procedimentos: mudanças comportamentais, menos infeções uterinas, risco reduzido de certos tipos de cancro.
Comida sem grãos? – A Food and Drug Administration (organismo americano da alimentação e do medicamento) emitiu um alerta nesta primavera sobre a possibilidade de alimentos sem grãos poderem causar um problema cardíaco fatal, chamado cardiomiopatia dilatada, em alguns cães. A ciência ainda é preliminar e é baseada numa potencial associação entre dieta e doenças cardíacas em menos de 600 cães. Deixar os grãos de fora da dieta do cão, no entanto, pode ser um risco muito maior para a saúde do que mantê-los. A comida sem grãos para cães costumava ser uma relativa raridade, reservada para animais de estimação com certos problemas alimentares. Mas, na última década, milhões de donos de cachorros desistiram de dar alimentos convencionais que incluem ingredientes como arroz ou aveia, por preocupação de que os grãos possam ser prejudiciais à saúde canina. Agora, as opções sem grãos constituem quase metade do mercado de ração para cães nos Estados Unidos. Durante o mesmo período, dietas sem glúten e com poucos hidratos de carbono também ganharam popularidade para os humanos. As pessoas vão antropomorfizar ou projetar nos seus animais de estimação o que acham que precisam comer.
Cancro contagioso – Na Ásia, há seis mil anos, uma célula nos órgãos genitais de um cão desenvolveu mutações, tornando-se um tumor. Esse tumor venéreo transmissível canino passou a ser transmitido de um cão para outro através do contacto sexual, alcançando uma espécie de imortalidade. À semelhança do que acontece com o cancro do colo do útero, o HPV é um vírus que também se transmite via sexual, mas sem ser infeccioso. Entre os animais selvagens, existem apenas oito tipos de tumores transmissíveis: dois crescem nos rostos dos demónios da Tasmânia, cinco espalham-se entre os moluscos, mas nenhum é tão antigo, prolífico ou bem-sucedido quanto o tumor venéreo transmissível canino.
Testes de ADN canino – Há cada vez mais empresas a vender kits de teste de ADN para animais de estimação. Em 2007, quando a Mars Petcare lançou o seu primeiro teste de ADN para cães, só era possível fazê-lo através de um veterinário. O teste exigia uma recolha de sangue, e a empresa contava que os veterinários ajudassem a interpretar os resultados, mas tal não aconteceu. Há uma década, uma alteração técnica permitiu à Mars Petcare extrair ADN de uma simples amostra de saliva, passando a vender diretamente aos clientes. Hoje, são várias as empresas de ciência genética que fazem os testes em cães, dando informações sobre a raça, as suas mutações e, em alguns casos, as estimativas de risco para mais de 150 problemas de saúde. Agora, são os donos dos cães que estão a levar os resultados ao veterinário.