Hábitos digitais não são fáceis de mudar e, embora quatro em cada dez utilizadores do Facebook assegurem a pés juntos que fizeram longas pausas, um estudo recente mostra que só por um valor exorbitante é que a maioria aceitaria estar longe da rede durante um ano. Agora, outra pesquisa especifica os efeitos que uma decisão dessas poderia ter.
Primeiro: passar mais tempo, em carne e osso, com amigos e familiares. Talvez menos conhecimentos sobre a situação política mas também menos febre partidária. Seria assim uma espécie de pequeno abanão no humor diário e na satisfação com a vida. E ainda uma hora extra de sossego por dia.
Feita por uma equipa de cientistas sociais da Universidade de Stanford e da Universidade de Nova Iorque, a investigação ajuda a esclarecer o debate incessante sobre os efeitos do Facebook nos seus utilizadores.
“Para mim, é uma dessas coisas compulsivas”, disse Aaron Kelly, 23, estudante universitário em Wisconsin e que aceitou participar no estudo. “Há alturas em que me parece muito útil, mas noutras alturas sentia que era uma perda de tempo e só estava a distrair-me do estudo”.
O que os investigadores fizeram foi usar anúncios no Facebook para recrutar participantes com mais de 18 anos e que passavam pelo menos 15 minutos na plataforma, todos os dias; a média diária era de uma hora, com utilizadores a registar duas a três horas e mais, em alguns casos.
Perto de 3 mil responderam sobre as suas rotinas diárias, as opiniões políticas e estados de espírito em geral. Depois, metade foram aleatoriamente designados para desativas as contas durante um mês, em troca de um pagamento. Esse valor foi de grande interesse: o acesso de um mês vale, em média, 100 dólares (qualquer coisa como 87 euros).
Muitos disseram que só se aperceberam que apreciavam o que a plataforma lhes trazia depois de saírem: “O que senti falta foi a minha ligação com as pessoas, é claro, mas também por exemplo a transmissão de eventos no Facebook Live, sobretudo quando sabemos que estamos a assistir a algo com pessoas interessadas na mesma coisa”, reconheceu disse Connie Graves, de 56 anos e consultor no Texas.
Quando o mês acabou, os participantes preencheram novamente uma série de questionários que avaliaram as mudanças no seu estado de espírito, consciência política e paixão partidária. Foi então que confirmaram o inesperado: mais uma hora, pelo menos, de tempo livre, e mais tempo com amigos ou familiares.
“Achei que ia acabar por substituir o Facebook por outras redes ou algo do género”, disse ao New York Times, Mathew Gentzkow. “mas não aconteceu e isso, para mim, pelo menos, foi uma surpresa.”
Mas, por exemplo, a avaliar o conhecimento da atualidade, os valores baixaram um bocadinho. “O que”, interpreta David Lazer, professor de ciência política e ciências da computação e informação, na Northeeastern Universitu, “significa que o Facebook é uma fonte importante de notícias a que as pessoas prestam atenção”.
Em testes de conhecimento político, os abstémios obtiveram alguns pontos mais baixos do que antes de desativar suas contas. “As descobertas do conhecimento político sugerem que o Facebook é uma fonte importante de notícias a que as pessoas prestam atenção”, disse David Lazer, professor de ciência política e ciência da computação e da informação na Northeastern University.
Mas todos concordaram que o resultado mais surpreendente do estudo foi que a desativação da rede teve um efeito positivo do humor das pessoas e da sua satisfação com a vida – mas pequeno – não confirmando por completo que o seu uso habitual cause efetivamente sofrimento psicológico real.
Os autores do estudo sublinham: “os dados permitem concluir que os que mais se socorrem da rede já são mal humorados e de mal com a vida”.