Foi no final do verão passado que o governo português anunciou a criação de uma comissão para as Comemorações do V Centenário da Circum-navegação comandada pelo português Fernão de Magalhães, que começam este ano e se prolongam até 2022, a lembrar o feito extraordinário do navegador português que, a serviço do rei de Espanha Carlos V, organizou a primeira viagem de circum-navegação ao globo.
Natural de Sabrosa, e de ascendência nobre, segundo alguns historiadores, Magalhães saiu de Sanlúcar de Barrameda, no Sul de Espanha, em setembro de 1519, liderando uma frota de cinco navios, com 256 homens a bordo. Mas não sobreviveu ao fim da viagem, tendo morrido a 27 de abril de 1521 em Mactan, nas Filipinas, já na rota de regresso a Espanha.
Nessa altura, era já o primeiro navegador europeu a alcançar a Terra do Fogo, no extremo sul do continente americano, e a atravessar o canal marítimo que liga Atlântico e Pacífico, oceano a que deu o nome. Mas após a sua morte, num confronto armado em Cebu, nas Filipinas, o comando da expedição foi assumido pelo basco Juan Sebastián Elcano. E é por este senhor mal constar nos livros de história deste lado da fronteira que os espanhóis se queixam.
Ibérica de costas voltadas?
A pensar na efeméride, o programa de comemoração nacional contempla a apresentação da candidatura da Rota de Magalhães a Património Cultural da Humanidade e a criação de um Centro de Interpretação, entre um total de 62 iniciativas. A Adega Cooperativa de Sabrosa, terra de Magalhães, também já anunciou que quer produzir o vinho oficial das comemorações.
Mas a festa não pára na fronteira: entre as várias atividades promovidas pelo executivo espanhol, está a exposição itinerante “A mais longa jornada”, promovida pela Ação Cultural Espanhola e pelo Ministério da Cultura, uma grande exposição sobre a aventura marítima, que estará na Biblioteca Nacional, em Madrid. Além disso, o navio-escola espanhol Juan Sebastián Elcano, uma réplica do Victoria da frota de Magalhães, fará a chamada rota “1519-1522”. E o velejador espanhol Alexa Pella prepara-se para circum-navegar a terra no seu trimarã, uma embarcação leve, movida a vela e assente em três cascos independentes.
Estas comemorações não se cruzam em momento algum e isso também pode ajudar a explicar por que razão a história é ensinada de maneira diferente na escola em Portugal e em Espanha. Parece que o aniversário da façanha trouxe para o presente que o passado pode ser escrito de muitas maneiras e isso, adianta o El Mundo, terá inclusive causado algum atrito diplomático entre os dois países: ou seja, para os alunos espanhois, a volta ao mundo de barco foi dada pelo basco Elcano; para os portugueses, o protagonista da aventura foi Magalhães. Nem a wikipedia, versão portuguesa ou espanhola, ajuda a acalmar ânimos, já que se alonga bastante a elogiar o navegador português Magalhães e dedica apenas umas linhas a Elcano.