Um estudo sobre o efeito do químico sintético no verme Caenorhabditis elegans permitiu a uma equipa de investigadores da Universidade norte-americana de Rockefeller descobrir que o DEET, considerado o repelente mais eficaz, não repele, afinal, os insetos – confunde-os.
Desenvolvido nos anos 40 do século passado, o DEET (N,N-Dietil-m-toluamida) está presente na maioria dos repelentes usados atualmente e já se sabia que interferia com os recetores olfativos que são um exclusivo dos insetos. Por isso, os investigadores não percebiam por que razão afetava também outras espécies, como aranhas e carraças.
A equipa da Universidade de Rockefeller debruçou-se, assim, sobre o verme C. elegans, que apesar de ser um animal pouco complexo tem um sentido do olfato elaborado.
A primeira conclusão foi clara: postos perante amostas de DEET, os vermes não se desviaram para evitar o químico, indicando aos investigadores que este não repele simplesmente o que atravessa no seu caminho.
As experiências seguintes mostraram que a presença de DEET limitava a deslocação dos vermes em direção a uma substância que normalmente os atrai, mas limitava também o afastamento de outra que tipicamente evitam. No entanto, os vermes reagiram normalmente a outros químicos, sugerindo que o DEET pode afetar as respostas tanto a odores atrativos como repulsivos, sem, contudo, “desligar” o olfato.
Os cientistas descobriram, então, que, nestes seres, a sensibilidade ao químico depende de um gene, o str-217. Quando ativavam artificialmente os neurónios regulados por este gene, os vermes ficaram parados – o mesmo comportamento observado nos vermes colocados num ambiente rico no químico. Ou seja, o popular repelente pode, na verdade, funcionar, em parte, ligando os neurónios que levam a uma paragem do movimento. Leslie B. Vosshall, uma das autoras do estudo, acredita que os vermes ficam num “estado mais introspetivo, sem ligar tanto aos odores”.
Emily Dennis, outra das autoras, acrescenta que a equipa começou o estudo a pensar que “talvez encontrasse um recetor mágico de DEET comum a todas as espécies”. “Mas descobrimos que, nos C. elegans, basta um único gene para obter a resposta ao DEET.”
“A única coisa comum a todos estes organismos é que o DEET faz alguma coisa que afeta a perceção do odor”, conclui Vosshall. “É como uma sabotagem ao sistema sensorial.”