O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) classifica como uma “tremenda injustiça” a acusação de três bombeiros no incêndio de Pedrógão Grande, considerando que “quem devia estar no banco dos réus” era o Estado português.
“Não pondo em causa o poder judicial, isto é de uma tremenda injustiça. É a acusação a três bombeiros que tudo fizeram para combater aquelas ignições. Isto representa uma ofensa para todos os bombeiros portugueses e em particular para os 280 homens e mulheres que nos últimos 30 anos morreram em serviço”, afirmou Jaime Marta Soares em declarações à agência Lusa.
O Ministério Público (MP) do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Leiria deduziu acusação contra doze arguidos no âmbito do inquérito aos incêndios de junho de 2017 em Pedrógão Grande, que mataram 66 pessoas.
Jaime Marta Soares afirma que a LBP “está revoltada” e que repudia esta acusação [a três bombeiros], considerando que se enquadra num “‘fait-divers’ político para não responsabilizar quem é responsável”, o Estado português.
O presidente da Liga considera que durante anos os responsáveis estatais foram ignorando os avisos sobre uma necessária mudança florestal.
Trata-se, no entender da LBP, de um “desrespeito para com todos os bombeiros”, que “todos os dias põem em risco a própria vida a troco de nada”.
“A presunção de inocência está sempre em cima da mesa e estes bombeiros vão ser ilibados certamente de todas e quaisquer responsabilidades”, disse Jaime Marta Soares.
Numa nota publicada na página eletrónica do Ministério Público, comarca de Leiria, lê-se que “os arguidos foram acusados dos crimes de homicídio por negligência e de ofensa à integridade física por negligência, sendo alguns destes de ofensa à integridade física grave”.
“À data do incêndio, dos 12 arguidos, dois eram quadros superiores de uma empresa de fornecimento de energia elétrica, três estavam investidos em funções de comando e coordenação no âmbito da proteção civil, três eram funcionários superiores da empresa responsável pela manutenção da EN 236-1, três eram autarcas de municípios onde ocorreram vítimas, sendo ainda um funcionário de um desses municípios”, esclarece a nota.
Entre os arguidos deverão estar o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, António Arnaut, e Mário Cerol, 2.º comandante operacional distrital.
Ainda no âmbito da Proteção Civil, Sérgio Gomes, que, quando ocorreram os incêndios, era comandante operacional distrital e que agora é adjunto de Operações Nacional na Autoridade Nacional de Proteção Civil, será também arguido.
Deverão ser igualmente arguidos o presidente da Câmara de Figueiró dos Vinhos, Jorge Abreu, o ex-presidente da Câmara de Castanheira de Pera Fernando Lopes e o ex-vereador do Município de Pedrógão Grande José Graça.
Um funcionário da Câmara de Pedrógão Grande deverá estar igualmente entre os arguidos, assim como dois funcionários da EDP e três da Ascendi, empresa responsável pela manutenção da estrada nacional 236-1, via na qual ocorreu a grande maioria das mortes.