A cantora Jess Magic é quem está a liderar este movimento de reconexão dos empreendedores de Silicon Valley com o seu lado espiritual. A artista chama-lhes songversations, uma mistura de canções (songs) e conversas (conversations).
Ao jornal The New York Times, o especialista em aplicações móveis Chad Mureta afirmou que estes encontros têm o mesmo efeito das drogas, “mas sem ser preciso tomar nada”.
Também o engenheiro de software Sanjiv Sidhu, com uma fortuna avaliada em 6 mil milhões de dólares (5,13 mil milhões de euros), classifica estas festas como “o escape perfeito de uma cultura empresarial que está a destruir a nossa necessidade de nos ligarmos”.
As emoções estão à flor da pele nestes rendez-vous realizados, muitas vezes, nas salas de estar destes empreendedores.
As songversations combinam sessões de rap filosóficas com música improvisada. Um dos instrumentos musicais habitualmente presentes são os ukulele, semelhantes ao cavaquinho português. Os temas das canções são inspirados por temas tão díspares como a degradação ambiental ou os desgostos amorosos.
Jess Magic incorpora uma espécie de Joni Mitchell do séc. XXI. Mostrando, mais uma vez, o seu talento com as palavras, descreve-se como uma “heartist”, artista (artist) com coração (heart).
Amizades exclusivas
Apelidados de “salões para a alma”, estes encontros procuram recuperar o estilo descontraído e arrojado do festival Burning Man, que decorre em pleno deserto do Nevada, durante o mês de agosto. Popular entre os geeks de Silicon Valley e os criativos de São Francisco, o Burning Man é uma ode à liberdade de expressão.
Os convidados de Jess Magic – e só é possível participar com convite – são incentivados a participarem nas canções e a contribuírem para as letras. No fundo, a deixarem-se ir, reconectando-se com a sua “criança interior”.
A cantora de 37 anos vive entre Cardiff, na Califórnia, e Bali, na Indonésia. Em tempos presidiu uma organização sem fins lucrativos de apoio a vítimas de abuso sexual. Em 2016, atuou no Women Economic Forum, em Nova Deli.
Várias estrelas de Silicon Valley fazem parte do seu grupo de amigos. Já deu um concerto, por exemplo, na festa de aniversário do criador do método de pagamento digital Pay Pal, Ken Howery.
Acredita que o apelo dos seus encontros se deve “ao vazio espiritual sentido por esta elite empresarial, apesar da sua riqueza”. A solidão inerente a quem abdica de amizades, relações e tempo em nome do sucesso profissional.
Os “valores hipermasculinos” serão outros dos motivos para esta deriva espiritual. “Tomam café para aguentarem o dia, álcool para desanuviar, compridos para dormir e as pessoas esquecem-se de que eles são seres humanos”, afirmou ao The New York Times. E há poucas coisas mais humanas do que cantar e dançar uma canção.