Custa a acreditar, quando ele próprio, Albert Einstein, fugiu da Alemanha natal assim que Hitler ascendeu ao poder, em 1933, para escapar à perseguição dos nazis aos judeus, e no país que o acolheu, os EUA, se juntou à luta pelos direitos civis dos negros americanos. A ponto de, em 1946, num discurso que proferiu na Lincoln University, na Pensilvânia, o qual ficou famoso, ter afirmado que o racismo “era uma doença dos brancos”.
Mas, na década de 1920, Einstein era um homem xenófobo e misógino. Essa figura até agora desconhecida surge nos seus diários íntimos de viagens que fez com a mulher à Ásia e ao Médio Oriente, recentemente publicados num volume pela Princeton University Press, com edição de Ze’ev Rosenkranz, da direção do Einstein Papers Project, do Instituto de Tecnologia da Califórnia.
Escritos entre outubro de 1922 e março de 1923, os diários agora divulgados têm entradas chocantes, sobretudo nas apreciações que Einstein faz dos chineses. “Imundo e obtuso povo”, descreve-os. “Seria uma pena se os chineses suplantassem as outras raças”, ainda acrescenta. Até as crianças mostram-se-lhe “sem espírito”.
Depois vem a misoginia de um Prémio Nobel (que ganhou em 1921) e de um cientista que, com a sua teoria da relatividade, a qual desenvolvia desde 1905, revolucionou a Física moderna. Tal cérebro, lê-se nos diários, via “pouca diferença entre homens e mulheres” chineses. Por isso, questionava-se acerca do “tipo de atração fatal” que as chinesas exerciam sobre os homens a ponto de chegarem à descendência… Para o Einstein de então, aliás, os chineses apresentavam-se “mais como autómatos do que como povo”.
Em Port Said, no Egito, o físico escreve ter enfrentado uma turba, “como que vinda em grande velocidade do inferno”, que invadiu o navio em que viajava para vender os seus produtos. Na capital económica do à época Ceilão (hoje Sri Lanka), Colombo, observa um povo que vive “em grande imundice e fedor”, o qual “faz pouco e precisa de pouco”.
Einstein apenas é benévolo com os japoneses. “São modestos, decentes e muito atraentes”, escreveu. “Almas puras, como ninguém. Uma pessoa ama e admira este país.”
Einstein demonstra uma perceção, válida para todos os povos que nestas viagens visitou, segundo a qual há uma origem biológica para uma alegada inferioridade intelectual. E nem os japoneses, claro, escapam. “As necessidades intelectuais desta nação parecem ser mais fracas do que as artísticas – disposição natural?”, interrogava-se.
Já apareceram vozes a desculpabilizar Einstein, dizendo que o físico reproduz nos diários as visões que à época prevaleciam na Europa. Mas é o próprio editor da obra, Ze’ev Rosenkranz, quem contesta essas atenuações. Ele pesquisou e encontrou, naquela altura, “pontos de vista mais tolerantes”. Resta-nos engolir em seco.