
Jerry Lemler, president e CEO da Fundação Alcor para a Extensão da Vida, junto aos cilindros onde eram mantidos, em 2016, data desta imagem, 49 indivíduos criopreservados
Jeff Topping/ Reuters
O sonho de manter a vida perpetuamente, através da criopreservação, já não é de agora. No Arizona, a Fundação Alcor para a Extensão da Vida mantém conservados no frio os corpos de 150 pessoas. Mas ninguém, até agora, conseguiu descongelar e reanimar um ser humano.
Uma experiência feita pela Universidade de Yale e divulgada no fim do mês passado parece ter posicionado a Humanidade um passo mais à frente. Os cientistas conseguiram descongelar os cérebros de uma centena de porcos, mantendo as células vivas durante 36 horas, graças a um sistema de bombas, aquecedores e sacos de sangue. Os animais não recuperaram a consciência, mas tinham perceção. E o método poderá funcionar em primatas, incluindo os humanos, defendeu a equipa.
Agora, um estudioso de Ética e Filosofia da Universidade de Nottingham Trent, Benjamin Curtis, veio avisar que os humanos ressuscitados poderiam enfrentar um destino “pior do que a morte”.
Ao site The Conversation, o professor afirmou: “Mesmo que o cérebro consciente fosse mantido vivo depois de o corpo ter morrido, teria de passar o tempo todo num balde, sem corpo, preso na própria mente, sem acesso aos sentidos que nos permitem vivenciar e interagir com o mundo. Na melhor das hipóteses, o indivíduo passaria a vida com apenas os seus pensamentos por companhia.”
Mesmo que ainda pareça longínqua a hipótese de ressurreição, Rui Nunes, professor de Medicina da Universidade do Porto e presidente da Associação Portuguesa de Bioética, afirmou à VISÃO, a propósito da atividade da Fundação Alcon, que este é um problema sério do ponto de vista ético e legal. “Um dia vai surgir e é preciso sensibilizar a população.”
A propósito do mesmo assunto, a investigadora Alexandrina Mendes, do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, realçou que a maior dificuldade na técnica de preservação pelo frio, com vista à ressuscitação, é a eficácia dos agentes crioprotetores. “Têm de chegar a todas as células, uniformemente, para que estas possam ser recuperadas.”
Referindo uma experiência recente, só 30% das células de uma cartilagem, com osso, puderam ser recuperadas. “Como será com o cérebro, um órgão bastante mais complexo?” questiona.
Vale a pena uma semi-vida?