Num tom pouco comum para a publicação, um cronista que assina com o nome “Dr. Gago Coutinho”, denuncia o desfasamento entre o discurso do ministro da Saúde e a realidade do sistema de saúde atual. No texto de tom humorístico, realça-se ainda a diferença entre as posições públicas tomadas pelo secretário de Estado-adjunto para a Saúde, Fernando Araújo, e as de Adalberto Campos Fernandes.
De um lado está Fernando Araújo, ao assumir a incapacidade do Governo em resolver a questão da atribuição de um médico de família a cada português, o que lhe tira o sono. Do outro, está o ministro Adalberto a afirmar que “está tudo bem.”
Apesar do tom leve, o assunto é serio, e no texto, publicado na revista da Ordem dos Médicos, MEDI.COM, denuncia-se alguns dos principais problemas que têm vindo a ser apontados pela classe: blocos operários subaproveitados; consultas externas com anos de espera; urgências médicas que continuam a ser de 24 horas, quando a classe reclama há anos que sejam de doze; falta de contratações que tem levado a um défice permanente de recursos humanos.
Todos – sindicatos, Ordem, os partidos que apoiam o Governo e até, como já se disse, o próprio companheiro de ministério, o secretário de Estado – estarão de acordo com as reivindicações. Só o ministro, insinua-se, está a assistir a um filme diferente. “Parece estranho que o sr. ministro acerte em tanto e os outros falhem nos mesmos temas. Parece estranho para todos nós ouvir o Dr. Adalberto Campos Fernandes afirmar que há mais médicos, mais consultas, mais operações, mais urgências, mais, mais e mais …E parece estranho porque é que todos nós que trabalhamos no SNS não conseguimos encontrar as mais-valias tão apregoadas. E achamos que que o que acontece é menos, menos, menos”, escreve o tal Dr. Gago Coutinho.
No final, uma recomendação: que o ministro seja medicado para “não acordar do sonho em que vive”.