Foi em 2013 que a equipa liderada por Sílvia Conde do CEDOC- Centro de Estudos de Doenças Crónicas- da Nova Medical School deu um passo firme no desenvolvimento da terapia para a diabetes tipo 2, ao descobrir que o corpo carotídeo – órgão localizado no pescoço – controla a forma como o organismo reage à insulina.
Este órgão é também um sensor metabólico, responsável por outras funções fisiológicas essenciais, como por exemplo o controlo do armazenamento de açúcar, da tensão arterial e pela resposta à falta de oxigénio.
Outros estudos feitos pela investigadora em ratos diabéticos provaram que a eliminação da ligação nervosa do corpo carotídeo ao cérebro, através do corte do nervo do seio carotídeo, conseguia repor a sensibilidade à insulina e a tolerância à glucose no organismo.
“Essas foram as primeiras experiências que fizemos. Mas percebemos que a remoção cirúrgica não era um processo viável porque o nervo tem várias funções fisiológicas importantes das quais não podemos prescindir”, refere Sílvia Conde.
A aposta da farmacêutica Galvani Bioelectronics, especialista em medicina bioeletrónica, nos estudos desenvolvidos pela equipa da investigadora possibilitou uma parceria que levou a um novo progresso: é possível intervir no nervo do seio carotídeo, controlando-o através da implantação de um elétrodo. O que se pretende é uma diminuição da atividade do órgão já que, nos ratos diabéticos tipo 2, o corpo carotídeo apresenta-se aumentado e hiperativo. Foram, então, implantados nos animais elétrodos no nervo do seio carotídeo de forma a permitir a modulação elétrica. Através desta técnica, conseguiu-se o controlo glicémico pretendido, sem qualquer efeito adverso.
Além disso, este é um processo reversível. “Era uma coisa que queríamos demonstrar: quando ligamos os elétrodos aos animais diabéticos, eles ficam bons, mas quando desligamos, eles voltam a estar doentes” avança Sílvia Conde. “Apesar da quantidade de eletricidade envolvida, não estamos a danificar o nervo com esta técnica”, continua.
Agora, o importante é continuar a trabalhar. “O próximo passo tem a ver com a parte tecnológica”, refere a investigadora. “A Galvani Bioelectronics está a desenvolver um micro elétrodo que possa ser implantado, recarregável e controlado por wireless”. Este passo é essencial na melhoria da qualidade de vida para os diabéticos tipo 2 já que vai permitir o controlo da doença a longo prazo.
“Uma vez que estamos a falar de algo que é implantado cirurgicamente, a adesão à terapêutica será mais fácil porque os doentes não precisam de se lembrar de tomar comprimidos ou injetar fármacos”, sublinha Sílvia Conde.