Para Mariana Gomes de Pinho, 45 anos, já não é uma estreia neste campeonato europeu da Ciência, que premeia os cientistas com financiamento para se poderem dedicar ao trabalho, pelo menos por uma mão-cheia de anos, sem estar sempre a fazer contas ao dinheiro para equipamento ou bolsas.
Há cinco anos recebeu uma Starting Grant (bolsa de iniciação); agora, acaba de lhe cair no laboratório, no Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa, uma bolsa de consolidação, no valor de 2,5 milhões de euros.
Mariana, cientista e mãe de três meninas (“faço questão de que se saiba que é possível fazer ciência e ter filhos”), trabalha numa área vital para todos nós. Bactérias e os problemas de resistência que ameaçam a qualidade de vida, ao tornar situações clínicas corriqueiras em mortes inesperadas.
O valor que agora lhe foi atribuído pelo Conselho Europeu de Investigação, que neste lote dedicou €16 milhões a oito grupos de trabalho portugueses (como acaba de anunciar o Comissário Europeu da Ciência e Inovação, Carlos Moedas), irá permitir que trabalhe por mais cinco anos na procura de uma solução para o problema que já ameaça matar mais do que o cancro. “Com o financiamento português seria impossível continuar este projeto”, nota Mariana Gomes de Pinho.
No seu trabalho, Mariana estuda o ciclo celular das bactérias – “sabemos mais sobre as células humanas do que sobre as bactérias, que até são seres bem mais simples” – para tentar perceber em que fases da sua vida é que estas estão mais suscetíveis aos antibióticos. A ideia é que seja possível prolongar esta fase, de maior fragilidade, para que o medicamento, que até pode ser um já conhecido, seja eficaz por mais tempo. “Queremos usar esta janela de oportunidade para tornar as bactérias mais sensíveis aos antibióticos”, sublinha.
Noutra linha de investigação, a cientista também está a desenvolver um método mais eficaz e barato de testar novas moléculas.
Os restantes sete investigadores que receberam financiamento nesta fase são da Fundação Champalimaud (com três projetos na área do cérebro), do Instituto Gulbenkian de Ciência (obesidade e bactérias), do Instituto de Medicina Molecular (doença do sono) e Universidade do Minho (engenharia de tecidos).