Os juízes europeus decidiram, esta quarta-feira, que as vacinas podem ser apontadas como fonte de doenças, mesmo sem provas cientifícas, num passo que reforça o crescente movimento anti-vacinas. A sentença do Tribunal de Justiça da União Europeia, no Luxemburgo, teve por base um caso de um francês vacinado contra Hepatite B (no final dos anos 90), a quem foi diagnosticado um ano depois esclerose múltipla.
O caso de J.W, que entretanto morreu em 2011, causou algum alarme quanto à associação da vacina com o desenvolvimento da doença degenerativa. Em 2002, a Organização Mundial de Saúde e o Comité Consultivo Global sobre Segurança da Vacina concluíram até que não existia qualquer ligação.
Agora a decisão do TJUE considera que a vacina pode ser considerada a causa da doença, mesmo na ausência de provas científicas, desde que as restantes evidências sejam “suficientemente graves, específicas e consistentes para justificar a conclusão”. Esta medida do tribunal europeu pode representar um “triunfo” do movimento anti-vacinas, que recentemente foi apontado como uma das causas do surto de sarampo em Portugal e chegou mesmo a causar uma vítima mortal.
As autoridades de cuidados de saúde temem mesmo que algumas doenças com amplo nível de erradicação, como a poliomielite, voltem a surgir. “Sem dúvida que nenhuma medida de intervenção de saúde é mais rentável que a imunização. É mais provável que se seja gravemente afetado por uma doença evitável por vacina que pela vacina”, dizem as autoridades de saúde.
Quando inventadas, no final do século XVIII, as vacinas eram consideradas uma medida de “salva vidas”. Mas a sua reputação foi altamente afetada com um artigo publicado em 1998, pela jornal científico The Lancet, que enganosamente associava as vacinas contra o sarampo ao autismo. Apesar do artigo ter sido imediatamente removido por apresentar informações falsas, as dúvidas quanto aos benefícios das vacinas permanecem até aos dias de hoje.