Os dados revelados por um estudo do INE sobre as causas de morte não deixam dúvidas de que são as doenças do aparelho circulatório as que mais matam em Portugal. Em 2015, o ano a que se referem os dados, os acidentes vasculares cerebrais (AVC), com 10,8 por cento, a doença isquémica do coração (6,7%) e o enfarte agudo do miocárdio (4,0%), foram responsáveis por 29,8 por cento do total de óbitos. O número representa um acréscimo em termos globais de 0,5%, mas apenas porque o número total de óbitos aumentou (de 105 219, em 2014 para 108 922, em 2015). Na verdade, em termos percentuais as mortes por doenças do aparelho circulatório diminuíram mesmo quase um por cento (de 30,7% em 2014, para 29,8, em 2015).
Os dados não surpreendem o presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) que, em declarações à VISÃO, revelou “que esta tendência descida tem vindo a registar-se nos últimos sete ou oito anos”. “Se houvesse uma interrupção do ciclo é que seria preocupante e caso para refletir” afirma João Morais. Para o recém-eleito presidente da SPC, há hoje sinais de que “os portugueses estão mais atentos aos problemas do coração, preocupam-se mais em comer melhor e há também um decréscimo acentuado no consumo de sal”, entre outras razões. A juntar a essas preocupações pelo lado dos pacientes, também do lado dos profissionais de saúde os alertas aumentaram e “há hoje muito mais informação e rastreios do que há dez anos, por exemplo”.
De resto, e se há área onde a cardiologia mais tem evoluído nos últimos tempos é precisamente no enfarte de miocárdio. E aí, explica João Morais, “o impacto do decréscimo de mortes é muito grande porque a mortalidade há uns anos era assustadora”.
No mesmo estudo do INE, também os tumores malignos continuam a ser a segunda causa de morte, com 24,5% dos óbitos. Um aumento de 1,6% face a 2014, em termos totais mas também representando uma descida de 0,4% em termos percentuais. Entre os tumores malignos o destaque vai para os da traqueia, brônquios e pulmão, com 3,7%, seguidos do cólon, reto e ânus, com 3,5%.
Ainda assim, o estudo refere que “embora os tumores tenham afetado mortalmente menos pessoas do que as doenças do aparelho circulatório, o seu impacto é superior em termos de potenciais anos de vida perdidos”. De resto, foram 118 820 anos potenciais de vida perdidos devido aos tumores malignos, “mais do dobro dos perdidos devido a doenças do aparelho respiratório”.
Surpreendente, ou talvez não, é o aumento de mortes por doenças do aparelho respiratório (10,7 face a 2014). Na base desce crescimento esteve um aumento de 40% da mortalidade causada por pneumonia. Por fim, também a diabetes teve um acréscimo no número de óbitos de 3,1% face ao ano anterior.