Quando entramos no ciberespaço, raramente nos apercebemos que nos comportamos de outra forma, que muitas vezes difere da postura que temos no mundo real. “A tecnologia infiltrou-se em cada um dos aspetos da nossa vida”, afirma Mary Aiken, psicóloga e autora do livro The Cyber Effect, que analisa a forma como o mundo digital alterou o comportamento humano, ao nível das suas emoções e perceções.
Aiken descreve o ciberespaço como “um mundo ‘hiperconectado’, em que tudo se amplifica e nos torna muito mais vulneráveis”.
“Estamos a viver um momento histórico muito emocionante, que está a mudar muitos aspetos da vida na Terra. Mas nem sempre o que é novidade é bom e a tecnologia não é sinónimo de progresso”, alerta a psicóloga.
“Muitos não dão conta. Estão em casa, sentados no sofá e quando estão online nada muda. Na sua mente não foram para nenhum lugar, mas as condições são diferentes das da vida real. Por isso os nossos instintos falham-nos no ciberespaço”, acrescenta.
Aiken e outros psicólogos, como Patricia Wallace (The Psychology of the Internet, 1999) e John Suler (The Psychology of Cyberspace, 2001 e 2004), investigaram este fenómeno durante anos e observaram alguns efeitos que o mundo digital tem nas pessoas, que a BBC resumiu.
1 – “Posso ser o que quiser” (desinibição online)
“Este efeito é muito interessante porque faz com que as pessoas façam coisas no mundo cibernético que não fariam no mundo real”, disse Aiken à BBC.
No mundo digital, as pessoas são menos simpáticas e têm mais tendência para ofender os outros. Uma das razões para este comportamento deve-se à ilusão de anonimato que a internet proporciona.
2 – “Não me conheces” (anonimato dissociativo)
Quando temos a possibilidade de não associar as nossas atitudes à nossa identidade pessoal, sentimo-nos menos vulneráveis ao confiar nos outros.
Este efeito tem como consequência um outro efeito: “É um estado mental menos inibido, as pessoas com ideias idênticas encontram-se mais facilmente”, explica a psicóloga.
3 – “Não me podes ver” (invisibilidade)
Também o facto de não existir contacto visual aumenta o sentimento de desinibição. Segundo Aiken, a invisibilidade tem como consequência o que a psicóloga denomina de “cibersocialização” – uma forma de socialização acelerada potenciada pelas redes sociais, que influencia a maneira como nos relacionamos.
Outra das consequências é a diminuição da autoridade: na internet as pessoas têm mais tendência para ter comportamentos desapropriados.
4 – “Quanto tempo passou?” (distorção do tempo)
Este fenómeno tem sido estudado nos últimos anos. Em fevereiro deste ano, um grupo de investigadores do Centro de Neurociência Cognitiva e Sistemas Cognitivos da Universidade de Kent (Reino Unido), publicou um estudo que revelou que temos tendência em substimar as horas que passamos nas redes sociais.
A razão é que a internet transforma o nosso processo de atenção. Esta distorção do tempo está associada à assincronia do universo virtual: O facto de não termos de lidar com reações imediatas faz-nos estar mais descontraídos e perder a noção do tempo.
5 – “É só um jogo” (imaginação dissociativa)
No mundo virtual sentimo-nos como personagens imaginárias que criamos e que atuam num espaço diferente – a dimensão digital.
Muitas pessoas encaram o mundo virtual como um jogo, com regras e normas diferentes da vida real. Assim que desligam os dispositivos tecnológicos, regressam ao mundo real.