Na semana passada foi novamente notícia a suposta confissão de Bernardo Bertolucci sobre a famosa e infame cena da violação de O Último Tango em Paris: que tudo foi combinado entre o realizador italiano e Marlon Brando. A jovem atriz Maria Schneider acabaria por ser surpreendida, garante-se – e a brutalidade da cena marcá-la-ia para o resto da vida. Bertolucci, entretanto, já desmentiu que tivesse sido assim, garantindo que a única coisa que Maria Schneider não sabia era da manteiga. Seja como for, o cinema está cheio de (outros?) casos em que os atores são surpreendidos, ou em que eles próprios surpreendem todo o elenco.
Assalto ao Arranha-Céus
Ninguém duvidava das capacidades de Alan Rickman, que interpretou o vilão de Assalto ao Arranha-Céus. A não ser, talvez, o realizador do filme. Para a cena em que Hans Gruber cai para a morte, o ator deveria ser empurrado, de uma altura de sete metros, para um colchão de ar depois da contagem de 1, 2, 3. Mas o realizador John McTiernan deu indicações à equipa para que o ator fosse projetado assim que dissesse “1”, para conseguir arrancar a Rickman uma expressão mais natural. E conseguiu: a inesquecível cara de surpresa e pânico de Rickman é real. O ator, que já tinha reservas sobre o salto, não gostou da ideia.
O Tubarão
É uma das frases mais marcantes do cinema – “Vai precisar de um barco maior”, balbucia um atónito Brody para Quint, depois de ver o tamanho do tubarão que perseguiam. Mas a genial tirada não estava no guião: o ator Roy Scheider improvisou-a no momento.
O Senhor dos Anéis – as Duas Torres
Aragorn, Legolas e Gimli estão a perseguir o grupo de orcs que raptou Pipin e Merry quando encontram um monte de corpos calcinados. Julgando os amigos mortos, Aragorn pontapeia um capacete e solta um grito (aparentemente) de raiva e frustração. Na realidade, o grito foi de dor: o ator Viggo Mortensen partiu dois dedos do pé ao chutar o capacete de ferro.
Um Sonho de Mulher
Desde o início que a cena se desenrola de forma a ser a mais romântica do filme: Richard Gere abre uma caixa em frente a Julia Roberts e revela-lhe um belíssimo colar; ela fica maravilhada e, lentamente, estica a mão para tirar a joia; e de repente Gere fecha a caixa, como um crocodilo a abocanhar uma mão, e Julia Roberts solta uma sonora gargalhada. O riso parece natural? É porque é mesmo. Fechar a caixa foi uma partida que Richard Gere decidiu pregar à colega.
Virgem aos 40
A personagem interpretada por Steve Carell decide depilar o peito. E, a bem do realismo, o ator – com um generoso tufo de pelos a cobrir-lhe o torso – fez mesmo a depilação, com cera, em frente às câmaras. Os berros de dor e a miríade de insultos dirigidos à esteticista são verdadeiros.
Indiana Jones e os Salteadores da Arca Perdida
É um pormenor, mas um pormenor que marca a personalidade da figura: Indiana Jones ziguezagueia pelas ruas do Cairo em busca de Marion quando é barrado por um guerreiro de cimitarra. Antevê-se uma frenética luta de espadas, mas Indiana, com ar de enfado, limita-se a sacar da pistola e a disparar sobre o adversário. Não era isso que estava escrito no guião – a ideia passava mesmo pelo chocar de lâminas. Mas Harrison Ford estava com uma gastroenterite e não lhe apeteceu gastar as poucas energias que tinha. E assim, acidentalmente, ajudou a definir a personagem.
Easy Rider
Um clássico do cinema, com interpretações geniais de Peter Fonda, Jack Nicholson e Dennis Hopper. A cena do diálogo surreal à volta da fogueira, por exemplo, é inesquecível, com as personagens a fumar erva e a falar sobre… coisas. Mas os atores não precisaram de recorrer aos seus dotes para entrarem nas personagens: bastou-lhes fumar erva verdadeira, e as falas incoerentes saíram com naturalidade. Um sacrifício a bem da arte da representação.