Ahmed Shafik morreu sem ver premiado o seu esforço de ter gasto horas a vestir calças a 75 ratos. Os tecidos variavam – poliéster, algodão e lã – porque o objetivo do estudo deste médico e sexólogo da Universidade do Cairo era avaliar o efeito da roupa na atividade sexual. No caso, na dos ratos; no futuro, acreditava ele, na do homem.
Shafik já tinha descoberto que as cuecas de poliéster afetavam a fertilidade. Agora, importava saber se os outros tecidos também poderiam provocar a diminuição de produção de espermatozóides. Os resultados da sua investigação, que surgiram pela primeira vez na publicação científica European Urology, revelaram que os ratos que usaram calças de poliéster durante um ano acasalavam muito menos. Aparentemente, o poliéster gerava eletricidade estática na zona genital.
Vinte e três anos depois, o egípcio, que morreu recentemente, recebeu, a título póstumo, o Ig Nobel na categoria Reprodução, numa cerimónia que a revista Annals of Improbable Research organiza desde 1991. O seu estudo valeu umas boas gargalhadas esta quinta-feira, 22, no auditório da Universidade de Harvard, uma constante durante toda a apresentação dos premiados de 2015.
Rir e depois pensar – foi esse o objetivo de Marc Abrahams, editor da revista, ao avançar com um gozo aos prémios Nobel. Um objetivo que se manteve na 26.ª edição, conclui-se ao saber, logo à cabeça, que a Volkswagen foi a vencedora na categoria Química, ao tentar resolver o problema das emissões excessivas programando os motores dos carros a produzirem menos poluentes em condições de testes na fábrica.
Esse terá sido o prémio mais polémico. Todos os outros estudos são apenas absurdos. O que terá passado pela cabeça do designer britânico Thomas Thwaites para construir próteses para as pernas e braços, e viver entre cabras, uma experiência relatada no seu livro GoatMan: How I Took a Holiday from Being Human (homem-bode: como tirei férias de ser um humano)?
Thwaites recebeu o Ig Nobel de Biologia ex-aequo com o veterinário e escritor Charles Foster, que, também ele, decidiu viver como um texugo, um cervo, uma raposa e mais alguns animais, e escrever um livro (Being a Beast, ou seja Sendo um animal). Apesar da coincidência, não consta que se tenha encontrado com o homem-bode.
O prémio de Literatura foi direto para Fredrik Sjoberg, um entomologista sueco que colecionou moscas mortas e moscas quase mortas numa ilha remota, e relatou a experiência “de prazer” nas suas memórias, uma trilogia a que deu o título de A Armadilha para Moscas. E o de Psicologia seguiu para um grupo de investigadores que escolheu fazer um estudo sobre a mentira perguntando a 1 005 pessoas, entre os 6 e os 77 anos, quantas vezes tinham mentido nas últimas 24 horas. Como é óbvio, não ficaram a saber se as respostas eram verdadeiras, mas mesmo assim publicaram os resultados na Acta Psychologica, em 2015.
Na categoria Medicina, uma equipa da Universidade de Luebeck, na Alemanha, provou que conseguimos aliviar a comichão no braço direito se coçarmos o esquerdo. A investigação incluiu um histamínico injetado em vinte voluntários, espelhos e vídeos. Os voluntários foram enganados pela parafernália de acessórios, e a verdade é que a sensação de comichão diminuiu relativamente.
A lista de premiados parece uma coleção de anedotas. O americano Michael Smith foi voluntariamente picado por abelhas em 25 locais do seu corpo para determinar os mais dolorosos (narinas, lábio superior e pénis) e os menos dolorosos (crânio, ponta do dedo anelar e braço). A canadiana Diallah Karim conseguiu determinar que a dor sentida ao passar numa lomba diagnostica uma apendicite aguda. E a austríaca Elizabeth Oberzaucher escolheu as técnicas matemáticas ideais para descobrir se o sultão Mulai Ismail de Marrocos produziu mesmo 888 filhos entre 1679 e 1727.
Mas há mais para nos fazer rir, como a receita química inventada pelo americano Tom Yuan e o australiano Callum Ormonde para “descozinhar” ovos parcialmente, ou a conclusão a que chegou a taiwanesa Patricia Yang de que quase todos os mamíferos esvaziam a bexiga durante 21 segundos.
O holandês Mark Dingemanse concluiu que a palavra “huh?” (ou uma sua equivalente) existe em todas as línguas, mas continua sem saber por que razão. Por fim, apetece mesmo dizer “dah” ao lermos que o chileno Bruno Grossei gastou horas para concluir que uma galinha com uma vareta enfiada no rabo caminha como um dinossauro.