As chamas são frequentes nesta encosta meridional da Serra da Estrela. Mas na segunda-feira, 22, o fogo meteu medo a José Domingos, o presidente da Junta de Freguesia, homem acostumado a estas tragédias. “Vinha mesmo direto às casas. Com dois carros de bombeiros lá conseguimos contê-lo, mas com muita dificuldade”, conta José, eleito pelo Partido Socialista.
Nesse dia, quando a freguesia de 220 habitantes esteve cercada pelas chamas que consumiam o pinhal (e algum eucaliptal), foi decidida a sua evacuação. O problema é que a estrada nacional que liga a povoação a Seia, a sede do concelho, está cortada há 10 meses. Cercados e sem escapatória, o presidente da junta teve de pedir autorização à Proteção Civil para desimpedir a via que permitiria a fuga da população. “Mandei uma máquina retirar as barreiras”, sintetiza.
A EN 230 está cortada desde 6 de novembro de 2015. A razão? Outro incêndio. Este ocorreu em setembro de 2014 e também varreu a encosta sul da Serra da Estrela. Ao fogo seguiu-se uma chuvada forte que provocou o aluimento dos taludes que sustentavam a via. “Parte da estrada abateu”, conta Tânia Alves, com ligações familiares à aldeia, que visita com frequência. Durante o resto de 2014 e grande parte de 2015, a circulação na estrada que permite a ligação de Coimbra a Seia e à Covilhã fez-se apenas por uma via mas em outubro do ano passado a Infraestruturas de Portugal, a empresa pública responsável pelas rodovias, decidiu cortá-la alegando questões de segurança.
“Disseram-nos então que seria lançado em abril o concurso público e que a obra seria realizada este verão”, relata José Domingos. Dito e não feito. Agora, depois do segundo fogo e da oposição da população ao encerramento de novo da via (houve uma manifestação popular, na quinta-feira, 18), a promessa é que o concurso público avançará em setembro e as obras serão feitas no início do ano. “Mas depois de tantas promessas não cumpridas já não acredito”, diz José Domingos.
Provisoriamente, o município decidiu alcatroar um trecho da estrada que liga Teixeira de Cima a Teixeira de Baixo, de onde há ligação direta ao troço da EN230 que funciona. “Mas os pesados e os atrelados não podem passar”, explica José Domingos.
Recentemente, o recém-isolamento de aldeia ia-se revelando fatal. João Brito, 70 anos, um habitante da localidade e presidente da Associação dos Amigos de Teixeira, teve um AVC durante a noite. A ambulância vinda da Covilhã teve de fazer o percurso alternativo para chegar à aldeia, que obriga a um desvio até Loriga, no alto da serra, antes de uma descida até Teixeira. “Perderam-se na estrada e fizeram um trajeto muito longo de regresso à Covilhã. O doente chegou ao hospital cinco horas depois dos sintomas”, explica Helena Loureiro, uma habitante da localidade com conhecimento direto do caso.
Para já, o autarca e a população aguardam. Pelas obras e pela reabertura da estrada. “Caso não cumpram, já combinámos que vamos fazer uma marcha de protesto até à sede da Infraestruturas de Portugal”, diz José Domingos.