Não se mostra sentimental, não nos traz a bola, não sobe para o colo porque quer festinhas, mas a cada dia surpreende-nos com comportamentos que ninguém espera de um bicho como este.” O bicho chama-se Mushu e é um dragão-barbudo, um réptil australiano, com barba preta que cresce quando há predadores à vista. É o réptil que mais tolera o contacto humano, sendo até sociável e “carinhoso, à sua maneira”. É assim que Magda Amorim, 20 anos, descreve o seu animal de estimação.

Dragão-barbudo Mushu foi a mais recente aquisição de Magda Amorim, que já tinha peixes, um papagaio e dois periquitos. O réptil tem-se mostrado um “animal carinhoso, à sua maneira”
Magda conheceu o dragão-barbudo quando trabalhava, em part-time, numa loja de animais.
Rapidamente a desconfiança passou a paixão, e juntou o réptil aos peixes, ao papagaio e aos dois periquitos que já faziam parte da mobília da casa. Embora indiferente às aves, Mushu parece gostar de “acompanhar o movimento dos peixes, com a cabeça”.
Esta é uma das espécies exóticas que mais têm sido adotadas como animal de estimação. Uma tendência que leva a entrar pela casa dos portugueses também furões, porquinhos-anões, tarântulas e cobras. O que leva alguém a transformar um animal destes no seu fiel amigo? Diz Ana Mendes, 35 anos, veterinária da clínica VetExóticos, em Almada, que a curiosidade por estas espécies é o primeiro fator. Mas também as questões de ordem logística são “cada vez mais importantes para quem vive em apartamentos”. É que estes animais, na sua maioria, não fazem barulho, não largam pelos e são de menor dimensão do que os cães e os gatos. Apesar de não haver estatísticas a confirmar o fenómeno, a veterinária vê aumentar o número de consultas de mês para mês.
Ana Mendes abriu, em 2012, a quarta clínica, no País, especializada em exóticos (a juntar às de Lisboa, Porto e Braga). Fenómeno que há muito se verifica noutros países e sustenta já outros negócios, como o da criação e venda destes bichos. É o caso do veterinário Carlos Henrique, 30 anos, que, num armazém em Lisboa, cria cerca de 2500 animais de 70 espécies, 99% deles exportados. Grande parte vai para China, Dubai, Alemanha e França.

Furão Pedro Sequeira adora o seu furão fémea e não o incomoda que, na rua, pensem que se trata de um rato. “É inteligente, independente e adapta-se aos nossos horários”
lucilia monteiro
Hobby caro
Pedro Sequeira, 27 anos, apresenta o seu furão fêmea de 2 anos, a Freia, que foi mãe há pouco tempo. Na presença de estranhos, fura rapidamente para dentro da camisa do dono. Legalizado em Portugal como animal de companhia em 2010, o furão é um mamífero da família das lontras e dos texugos, e já foi usado para caçar coelhos. “O furão é independente e inteligente”, diz Pedro. Não depende em demasia dos três inquilinos do apartamento onde vive, em Vila Nova de Gaia. “Sabe dar carinho, dorme 18 horas por dia e habitua-se aos nossos horários”. Espera-os depois do banho, para amavelmente lhes lamber os pés. “As pessoas na rua não sabem bem o que é: umas têm curiosidade e outras dizem: ‘Que nojo, um rato!’” Mas não o incomoda. Já as contas… Como se não bastasse pagar €50 por um furão, o registo do animal ultrapassa os €100 e as urgências no veterinário são “100 vezes mais caras do que com cães e gatos”.
Os clínicos asseguram que nem todos estão mentalizados para gastar dinheiro com “o tratamento adequado” ao seu animal exótico – é mais fácil e barato deixar morrer um bicho de €5 e comprar outro do que pagar uma consulta. Mas Joel Ferraz, do Centro Veterinário de Exóticos do Porto, também garante que “há quem gaste o que for preciso”.

Tarântula A paixão de Jorge Pereira por estes bichinhos já vem de longe, daí ter sete aranhas tatuadas no corpo. As tarântulas Lee e Bola de Pelo fazem companhia à cobra Bruce
Jorge Pereira nunca teve de ir ao veterinário com a cobra (Bruce) ou as duas tarântulas (Lee e Bola de Pelo), mas informou-se muito bem para evitar problemas de saúde. Os três fazem agora companhia à cadela e aos dois gatos e “dão-se muito bem”. Jorge conta como estes animais requerem tantos ou mais cuidados que os cães ou gatos, sobretudo na alimentação. As tarântulas alimentam-se de grilos, que compra numa loja. Para a cobra Bruce, Jorge cria ratos – Bruce come um por semana. “Já me ferrou duas vezes”, relembra. Mas admite a culpa, por ainda não ter apanhado o jeito na hora de dar comida.
Maria Carlota tem dois meses e é uma porca-anã. Estreou-se há pouco no veterinário, para a primeira vacina. É a mais recente aquisição (€90) de Michaela Novais, 36 anos, a viver no Porto com o marido, as irmãs, os cunhados, 12 cães, cinco gatos, duas tartarugas, uma arara e, agora, uma “mini pig”. “Era um sonho da minha mãe ter um porquinho.”
O porco-anão é o novo melhor amigo do homem. Em adulto, é mais ou menos do tamanho de um cão de grande porte (pode ir até aos 40 quilos). E apesar de o nome os atraiçoar, são muito limpos, organizados e fáceis de ensinar. Maria Carlota tem sorte: é a primeira a tomar o pequeno almoço – iogurte grego com linhaça, aveia e banana – e ainda tem acesso exclusivo à cama da dona, durante a noite, companhia de que Michaela já não abdica. A porquinha é a alegria da casa, mas a dona ainda nota muito desdém na rua: “Um porco!? Os porcos são para comer!”
Michaela já só come carne de frango e está a tentar ser vegetariana.