O Campo de refugiados Katsikas, na Grécia, é um dos mais terríveis do país. Situado a poucos quilómetros de Loannina, ocupa um antigo aeroporto militar da Primeira Guerra Mundial. Apesar dos esforços das equipas de voluntários, há cerca de um milhar e meio de pessoas acumuladas em tendas e contentores, em condições infra-humanas, entre elas, 600 crianças. O quotidiano é passado em filas para comida, água ou cuidados de saúde.
Para mostrar o desadequamento dos donativos, um grupo de voluntários organizou esta insólita passagem de modelos com os trapos enviados, mostrando que o que deve direcionar a nossa solidariedade é o que os refugiados necessitam, e não o que nos sobra.
As pessoas enviam roupa interior usada, t-shirts esburacadas, vestidos festivos, tops justos, lantejolas, tangas, sapatos de salto alto e até pantufas acetinadas com pompons… O que não só representa uma falta de respeito para com os refugiados em situação desesperada, que tem direito à sua dignidade (que já está suficiente abalada pelas condições em que se encontram), como tamanha tralha desadequada só atrapalha e multiplica por 100 o trabalho das equipas. Falam em desperdício de tempo, de energia e até de dinheiro, uma vez que é necessário ordenar e distribuir e, muitas vezes, reciclar as peças para artefatos realmente úteis. Por isso organizaram esta campanha, reiterando que “um campo de refugiados não é o seu saco do lixo”, que devem solidarizar-se, sim, mas não apenas com o coração: também com a cabeça. E apelam à “doação com responsabilidade”.
Porque “doar roupas a pensar nas necessidades do receptor não é o mesmo que esvaziar o armário e enviá-lo para um campo de refugiados”, o grupo realizou este vídeo que está a circular com uma enorme aceitação, funcionando como metáfora da ajuda humanitária, que embora com boas intenções, é totalmente inconsciente.
Em 2004, após o tsunami no Índico, um pilha inimaginável de roupa usada ficou a apodrecer numa praia indonésia, até se tornar num problema de saúde pública e ter de ser incinerada. Na ânsia de ajudar, as pessoas doam coisas inimagináveis, como fatos de máscaras ou perucas. Outra coisa muito em voga, e muito problemática, são as toneladas de ursinhos de pelúcia que se costumam enviar-se para as crianças.